sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Inesquecível no mau sentido

Hoje eu me lembrei de um filme que assisti há uns bons cinco anos atrás, no mínimo: Irreversível (Irreversible - 2002), com roteiro e direção de Gaspar Noé. Esse filme francês, estrelado pelo famoso casal Monica Belucci e Vincent Cassell, foi realmente marcante para mim. Até hoje não consigo ter frieza para entender a qualidade do filme, sua densa narrativa, atuações fortes e por vezes sutis, e os interessantes contrapontos de sequências de violência com doces cenas de amor e amizade. Tudo é rico em ousadia e inovação, mas o diretor optou pelo choque, e fez do choque a linha mestra de um filme, que ao meu ver, poderia ser inesquecível por outros méritos. Irreversível mostra uma sequência sem cortes de um estupro seguido de espancamento. Até hoje só a lembrança dessa cena me faz mal e mexe comigo. Respeito a decisão do diretor, mas não consigo enxergar cooperação alguma que isso possa ter para a nossa sociedade, o que eu gosto de pensar para o Cinema.


O casal franco italiano na ficção e na vida real, e uma cena linda, dentro de um filme de horror

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 - Eu assiti

Eu assisti a Tropa de Elite 2 (2010). A Equipe todos conhecemos, diretor José Padilha, estrelado como nunca antes algum filme brasileiro o foi, por Wagner Moura, o mundialmente iconico Capitão Nascimento, com roteiro produzido por uma tropa, do trocadilho proposital, Bráulio Mantovani, baseado em argumento de José Padilha, Rodrigo Pimentel e Bráulio Mantovani. Acompanhei tanto a pré produção (online), desse segundo filme, já li tantas críticas (todas positivas, e seguindo a linha da grife, crítica que transcende do âmbito meramente cinematográfico), e então fui eu mesma assistir. Eu fiquei arrepiada e um tiquinho eufórica depois do gancho das primeiras cenas, quando eles nos deixam perplexos com algum acontecimento (da mesma forma que acontece no primeiro, e seguindo uma linha meio Tarantinesca, que eu adoro), e depois explodem na trilha tema do Tijuana. No plano geral e levando em conta o receptor da mensagem, eu no caso, uma otimista de plantão, fiquei bem chocada com o final. Quem espera encontrar resquícios do primeiro filme, vai sair no mínimo desapontado. O segundo filme, como toda grande sequência deve ser, brilha sozinho e com própria personalidade, (vide a segunda parte de Poderoso Chefão por exemplo, que consegue superar a primeira). Tenho certo receio da chamado "voice over", a narração de Nascimento, aquele comentário contínuo que acompanha a ação, explicando-a muitas vezes de forma levemente excessiva, mas por outro lado, não consigo imaginar esse filme sem esse recurso. Como Tropa de Elite (o primeiro), pelo menos pra mim que mergulho na "realidade" mostrada, a projeção pesa, me deixa pensativa, e por muitas vezes até um pouco deprimida. O veredicto (pra mim), fica entre o "é essa merda ai mesmo" e o "vamos acordar pessoal!". É de se pensar, e reassistir, e discutir, e pensar nele quantas vezes forem necessárias, filmaço, nacional, com conteúdo, e sucesso retumbante de bilheteria, um orgulho! E é isso resumindo o "inrresumível".

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

FIlme de ator

Sandra Bullock todos conhecemos, e invariavelmente simpatizamos com ela. A típica garota forte e talentosa, bonita de uma beleza real, que pode ser da nossa vizinha ou colega de escola. Os filmes americanos têm se mostrado antes de filmes de autor (qdo diretor e roteirista são a mesma pessoa), filmes de ator, se é que esse termo existe. "A Origem", como mais um filme do Leonardo di Caprio, "Comer, Rezar e Amar", de Julia Roberts. Nesse ano de 2009 tivemos a volta real e palpável de Sandra Bullock versátil (até demais), em lançamentos importantes. De todos eles, ela ganhou o Oscar por "Um Sonho Possível" (The Blind side - 2009), direção: John Lee Hancock e roteiro do mesmo, baseado em livro de Michael Lewis. Um filme justo em todos os aspectos, bom entretenimento, boas atuações, bom roteiro com humor e que emociona, sobre a história real de Michael Oher, filho de mãe viciada e largado na rua, que é recebido em uma família rica e mais tarde se torna um astro de futebol americano. Lembrou-me muito de Preciosa do mesmo ano, e também indicado, como Um Sonho Possível, ao Oscar de melhor filme. Prefiro o primeiro em muitos aspectos, mas muito por gosto, prefiro o realismo de Preciosa.



Cena de "Big Mike" com o garoto CJ caçula da família, do tipo "relief character", tipo que dá leveza e humor à história.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Thelma & Louise e nós mulheres



Já assistiu ao filme Thelma & Louise (1991 - mesmo nome original no inglês), com direção de Ridley Scott e roteiro original vencedor do Oscar, de Callie Khouri? Esse é um dos dez filmes, sobre o qual eu falo, e consequentemente grito com quem converso se me responde negativamente à pergunta. Você deve assistir Thelma & Louise! Primeiro por que ele é diferente de qualquer coisa que tenha sido feita antes disso, mesmo tendo todos os elementos, cenários e questões que estamos cansados de ver. O grande diferencial do filme é o roteiro e consequentemente os personagens. Thelma e Louise são duas mulheres cansadas e entediadas com suas vidas e rotinas sem sentido e resolvem viajar sem um rumo muito certo, deixando pra trás todo aquele marasmo, até ai nenhuma novidade. A grande diferença do filme, e o que nos toca, é a sua originalidade, ele foge a todo momento do lugar comum, ele conversa com a nossa realidade, com as nossas escolhas diárias, e ele nos conta tudo isso através de imagens que tornaram-se ícone com o tempo, esse roteiro abre mão do falatório dos diálogos sem fim, para preferir um olhar, uma metáfora, um objeto. Conhecemos essas protagonistas, torcemos por elas e assistimos estarrecidos à sua transformação no percurso da grande aventura que elas resolvem encarar. Acho praticamente impossível alguém não se divertir assistindo a esse filme. Emocionar-se já depende de quão vulnerável vc consegue se deixar estar. E de todas as qualidades, como sempre esse filme esbanja das melhores: a despretensão. Com Geena Davis, Susan Sarandon eternizadas como as heroínas, Hervey Keitel como o policial que foge do clichê insensível, Brad Pitt em ascensão, e o meu querido (e do Tarantino), Michael Madsen. O diretor Ridley Scott (Gladiador, Um bom ano), merece o crédito pela direção de atores, e a ótimas escolhas de cena, especialmente a final, inesquecível!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O vencedor do Oscar 2010

Demorei, enrolei, mas assisti finalmente ao vencedor do Oscar 2010 de Melhor Filme, Guerra ao Terror (2009 - The Hurt Locker), direção de Kathryn Bigelow (também vencedora do Oscar de melhor direção), e roteiro original de Mark Boal (também vencedor do Oscar).Guerra ao Terror é o tipo, ou melhor o gênero de filme do qual costumo fugir, de guerra, com heróis americanos e também, devo confessar, contemporâneo, dai a minha demora para conferir um filme tão comentado. Fiquei bem interessada na cerimônia do Oscar esse ano, muito pela diversidade dos indicados. Para melhor filme, dentre todos, havia um filme ícone na nova linha de 3D, Avatar, do megalomaníaco (no bom sentido), James Cameron (Titanic), Guerra ao Terror, da sua ex-mulher, a coroa enxuta, Kathryn Bigelow, Bastardos Inglórios do meu amado Tarantino, sem chances como sempre de ser realmente premiado pela Academia, e um drama visceral, Preciosa, meu preferido, e na minha opinião, agora final (depois de assistir ao vencedor), real merecedor do prêmio máximo desse ano. No que se refere a Guerra ao Terror, como vencedor do Oscar, digo que vale. Primeiro por ser um filme independente, com baixo orçamento (11 milhões), que acabou derrubando um Avatar de 300 milhões nas premiações. No que se refere ao enredo, temos os bons, realmente bons e bem intencionados, e humanos soldados americanos no Iraque (?), mas também temos uma linha muito interessante de roteiro e personagens, principalmente o protagonista, o desconhecido e bom Jeremy Renner, o próprio Hurt Locker, que seria o especialista em desarmar bombas. Um bom filme precisa de uma boa produção e uma história original. Guerra ao Terror entrega a encomenda, e despretensioso mantém o ritmo com um final realmente interessante, mereceu o prêmio, principalmente pela fotografia dos momentos de espera, de medo e condições sub humanas nos campos da batalha de hoje.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

I like trash

É mais um momento pessoal, uma característica talvez que distoe da nossa realidade correta, racional, cheia de sentido, mas ultimamente tenho curtido muito o trash. Trash pro cinema seria aquela quantidade exorbitante de sangue de katshup saindo pelas tripas das pessoas, dialogos non sense, até mesmo má atuações e efeitos toscos. Isso é um tipo de filme que surgiu assim, digamos, da falta de recursos e com o tempo se tornaram cult cinematográficos. Tarantino usa referências em Kill Bill, agora nos Bastardos Inglórios também, encontramos trash na série de super sucesso (e que eu indico fervorosamente que assistam), True Blood, como no nome, tem muito muito sangue, tripas, orgão à vista e sexo com alguém que sai literalmente da terra. Juntando todos esses fatores, mais um boa dose de sarcasmo, temos Garota Infernal (2009 - Jennifer's body) direção Karyn Kusama, cujo corpo do título original, é da já tida como nova Angelina Jolie, Megan Fox, a gostosona. Resolvi pegar esse filme e dar algum crédito quando soube das pessoas envolvidas, Jason Reitman (diretor de Obrigado por fumar, Juno, Amor sem escalas), como produtor executivo e roteiro de Diablo Cody, a ex stripper e roteirista do também ótimo Juno."O inferno é uma garota adolescente", essa é a frase que nos coloca dentro desse enredo trash, como já dito, na voz da nova queridinha e rosto de quase todas as estréias norte-americanas Amanda Seyfrid (Mama Mia, Querido John), melhor amiga da personagem Jennifer (Fox) no filme. Resumindo esse filme conta a história de uma garota, cheerleader (dããã), que tem seu corpo tomado por um demônio em uma seita orquestrada por um grupo de rock, e depois precisa se alimentar de seres humanos para sobreviver. Ela realmente devora os rapazes. Depois de dois alertas ferrenhos dos meus amigos da locadora, falando quão horrível o filme era, assisti ao Jennifer's Body e amei!Sacadas ótimas de humor, trash que chega ao ponto de um arroto colossal de Megan Fox vomitando uma gosma preta, e um ótimo desfecho. Fica a dica, é sempre bom saber o que esperar de um filme.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Memento

Tive uma aula de arte cinematográfica, e devo isso ao há pouco citado Christopher Nolan (A Origem – 2010), com seu “Amnésia” (Memento - 2001), com roteiro e direção do mesmo. O Cinema já completa mais de cem anos de história e tem evoluído como poucas artes o fizeram, se for pensar nesse pouco tempo de existência, talvez muito pelo fato de ser uma arte híbrida que surge da junção de muitas outras como teatro, pintura,literatura, fora o seu caráter extra de Mídia. No cinema, bem como na literatura, há a técnica metonímica da parte pelo todo. Nos livros alguns detalhes vão se mostrando aos poucos até que se forme o quebra-cabeça original do enredo, subjetivamente formado por cada um dos leitores. Em Cinema (do tipo original), conta-se a história através de imagens, pequenos gestos propositalmente deixados na tangente para que o nosso olhar superestimado se direcione para esse instante em especial, na certeza de ter captado por talento um lance único para compreensão da história, que na verdade é propositalmente programado pelo diretor ou roteirista do filme. O cinema tem muito dessa característica complementar, um jogo que se joga em equipe. Um gesto, uma risada, uma palavra que marcam uma história como ícone, podem ser espontaneamente alcunhados pelo ator, pelo diretor, ou serem previamente descritos pelo roteirista dentro da cena. Em Amnésia, como em todos os chamados filmes de autor, que são escritos e dirigidos pela mesma pessoa, fica difícil não ter certeza sobre quem se deve atribuir esses pequenos detalhes importantes. Já disse antes, Nolan tem uma mão extremamente despretensiosa em suas ilustrações, movimentos leves nas atuações, que por isso tornam-se ainda mais críveis, nesse que é um filme experimental, que vai do fim pro começo, meio e começo de novo, seguindo esse herói sem memória recente, Leonard, muito bem feito pelo Guy Pearce, pede que nós como voyeurs que somos, tenhamos paciência para espreitar o verdadeiro fio que puxa essa história. Ai que entra o meu comentário extenso sobre Cinema e o mostrar sem ficar descrevendo tudo. Sou muito simpática ao que se chama Voice Over (é a narração que acontece simultaneamente à ação que acontece no filme, pode ser do protagonista, ou e uma pessoa de fora), de Charlie Kaufman (Quero ser John Malkovitch, Adaptação), mas é sempre bom rever o cinema que se conta através das velhas fotos que se movimentam, ao modo que começou.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

É do Brasil!!

Nesse feriado chuvoso (Aleluia!), consegui colocar em dia minha dívida com os filmes, e assistir a bons novos nacionais. Comecei com um dvd de Divã (2009), com direção de José Alvarenga Jr. e roteiro adaptado de Marcelo Saback, baseado em livro de Martha Medeiros, estrelado pela Lilia Cabral, a coroa que pega Gianechini (cada vez mais dando aula de galã), e Cauã Reymond. E terminou com o peculiar e curtinho (apenas 80'), "Reflexões de um liquidificador" (2010), direção de André Klotzel, roteiro de José Antonio de Souza, estrelando Ana Lucia Torre e Fabíula Nascimento (Estômago), com Selton Mello com nada mais nada menos que o Liquidificador.



Sou ainda jovem, mas se alguém um dia me perguntasse o segredo para o sucesso eu diria Autenticidade, pelo menos é o que busco com algumas boas doses de despretensão. Os lugares comuns cansam e os clichês enjoam, isso todo mundo já sabe. Quando se quer propor algo novo, em se tratando de Cinema, precisa-se de um bom roteiro. Divã e Reflexões de um Liquidificador o têm. O primeiro com atrizes e atores globais e "manecais" no elenco, já nos suscita aquele famoso nariz torto, esperando por algo que já imaginamos que vai vir. Logo nas primeiras cenas, na voz de Lilia Cabral nos apercebemos de nosso equívoco, quando ela diz ao seu terapeuta, no "Divã", "Se estou aqui, com certeza não é por falta de felicidade". Temos ai o mote do filme, a contra história da maioria dos dramas a que já assistimos, uma heroína que não sofre de tristeza, por não ter achado o príncipe encantado, ela sofre como todas nós, por ser mulher e sempre sonhar com mais, muito mais. Do filme todo só tiraria algumas cenas escrachadas demais, a la Zorra total...

Em "Reflexões...", filme a que assisti em uma sala do Unibanco Augusta lotada, o que só me alegra ao pensar que ainda prestigimos o nosso bom cinema nacional, e ainda mais, as idéias novas! Depois de um curta, e uma mini apresentação de stand up comedy, assistimos ao filme despretensioso de 1 hora e 20 minutos. A atuação vocal de Selton Mello está impagável nesse filme excêntrico e curioso, exatamente o que se pode esperar a priori, de um filme estrelado por um eletrodoméstico. Um liquidificador que observa a vida humana, a vida paulistana, e toda essa coisa curiosa do cotidiano que já estamos acostumados a olhar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Maturidade/auge de Leo Di Caprio, filme de autor de Christopher Nolan

Leonardo Di Caprio sempre entregou bem suas encomendas artísticas, desde muito novo, quando ele era o galã da minha adolescência, com Titanic, sempre com esse rosto delicado de garoto travesso. Coincidentemente assisti no mesmo fds a dois filmes dele, somente comprovando esse bom momento em que ele se encontra, o tal do auge, em sua maturidade como ator, galã, e homem do cinema, um dos mais importantes da nova geração.
Leonardo Di Caprio é na verdade apenas uma pequena parte de todo esse empreendimento artístico e criativo que é, no mal traduzido português de sempre: A Origem ("Inception" - 2010), com argumento, roteiro, direção, de Christopher Nolan. Alguns pretendem comparar o filme ao ícone "Matrix" (1999), outros acharam o filme fraco, desde roteiro, até atuações. Eu, com a minha humilde opinião e gosto, levando em consideração expectativa, humor no momento, necessidade emocional, concordo mais com os primeiros. Digamos que eu acho sim, que chegue (veja bem), aos pés de Matrix. É também um tipo de filme sobre o qual não se pode comentar muito, correndo o risco de estragar (spoiler), o filme de quem ainda não o assistiu. Um roteiro muito bem acabado, literalmente, por Christopher Nolan, levando em consideração o peso do climax, o "fechar com chave de ouro", além do desenvolvimento à altura, atuações boas, não diria espetaculares, algo que salte muito aos nossos olhos, mas muito talvez pela característica de Nolan, e sua direção mais exata, direta, sem muitas firulas. Marion Cottilard (Piaf um hino de amor - 2007) pode ser resumida como diva, com uma presença poderosa, graças também ao figurino impecável. Ellen Page, eternamente Juno (2007), não fica devendo nada aos veteranos e temos também o tradicional ator de comédias românticas Joseph Gordon-Levitt (500 dias com ela - 2009), que também segura o papel de "coadjuvante" importante. Um detalhe interessante do filme, fora os efeitos, história mirabolante, e a ação, são os refinados toques de humor, que sempre dão aquele tchan pra coisa.
Eu dou nota 8 e indico pra todos, principalmente que assistam à "Inception", inserção na tradução correta, na telona.

O outro filme com o Di Caprio foi "Ilha do medo" (Shutter Island - 2010), com direção do mestre Martin Scorcese, com roteiro de Laeta Kalogridis, baseado em livro de Dennis Lehane, o mesmo autor dos livros que inspiraram os filmes "Sobre meninos e lobos" (Clint Eastewood - 2003) e "Medo da verdade" (Ben Affleck - o próprio - 2007).

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Eu x Alain Resnais

Para nós bons admiradores do Cinema Arte e ao que já se infere disso, dos franceses, quando assistimos a alguma de suas obras, sentimos uma certa "obrigação" de gostar daquilo, por que os caras são gênios consagrados, laureados de glórias, enquanto nós continuamos a nos contentar com um ou dois DVDs por semana, um blog sem grandes pretensões, e algumas conversas de bar, nós aqui, os atrasados do Brasil. Dentro de toda essa complexidade artístico cinematográfica e subjetiva, aluguei "Medos privados em lugares públicos" (2006), com direção de Alain Resnais, e roteiro de Jean-Michel Ribes, baseado em peça teatral de Alan Ayckbourn. Sentei no meu sofá, peguei uma xicara de chá e comecei a assistir ao filme na quarta a noite. Vinte minutos....mais um pouco..e depois de piscar pesadamente os olhos três vezes, resolvi tentar no próximo dia. Quinta-feira, mais dez minutos, sono, cansaço, fui dormir. O filme possui aquela característica já tida como "europeia" da ação guiada pelas personagens, aqueles diálogos frequentes, encontros, desencontros, digressões, etc. Ele tinha também um detalhe peculiar, na edição de imagens. Como se passa no inverno parisiense, TODA transição de cena, ao invés do tradicional corte seco dos filmes contemporâneos - aquele corte que nem parece corte, por que apenas junta cenas imperceptivelmente -tinha a neve caindo em troca, isso mesmo, neves caindo levavam uma cena a outra....Mas, pensei comigo, é um filme de Resnais, o diretor de Hiroshima meu amor, um filme ícone do pós Guerra, genial, eu precisava tentar mais.
Voltei para a minha cidade do interior, aconcheguei-me no grande sofá da casa dos meus pais, e coloquei novamente Resnais, confiante na Arte, e dessa vez eu dormi ali mesmo. Decidi que não tentaria mais ver o filme. Mantive-me firme em minha convicção e senso crítico e pensei comigo mesma: "Puta filme chato!"

Um Resnais que vale a pena: "Hiroshima meu amor" ("Hiroshima mon amour" - 1959), com roteiro de Marguerite Duras. Sobre um romance relâmpago entre uma francesa e um japonês, ambos casados. A paixão, a nostalgia e o caos pós guerra se misturam nesse diálogo amoroso transcendental.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Não tem erro - Almodóvar

Pra variar aluguei mais filmes do que eu poderia em relação ao tempo hábil para assisti-los, e ontém cansada depois de natação, trabalho e curso, fui certa na melhor escolha para o momento, um bom e velho Almodóvar. Dizem que precisamos nos surpreender com frequência, explorar o novo, e todas essas receitas ditas e reditas...Eu pessoalmente sinto um conforto imenso ao lançar mão do velho lugar comum, do terreno conhecido,(tudo isso no bom sentido), o que no cenário cinematográfico se resume em Woody Allen, Tarantino, e como na noite de ontém, ao espanhol mais quente de todos Pedro Almodóvar. O que gosto nesses caras é a sua autenticidade, eles são a personificação do que costumamos nos referir ao dizer "Eles não sabem brincar". Ele se encontram talvez em outra dimensão, outra história, não tem comparação...podemos apostar neles, que o resultado vem, e o engraçado é que eles dizem e redizem as mesmas histórias e personagens, apenas com algumas mudanças de foco, criando arte atrás de arte. Em Almodóvar, nesses tempos de metrópole, congestionamento e o tempo quase nulo no lar, me agrada a duração de seus filmes, que não saem muito dos 90". As cenas costumam ser curtas, e invariavelmente trágico/excêntrico/cômicas, não tem como se entediar. Você pode esperar ver freiras e tigres, sadicos adoráveis, travestis doces, drogados familiares, e tudo o mais na barca almodovariana. Dessa vez, em Ata-me! (Átame! - 1989), com direção e roteiro do próprio, temos Antonio Bandeiras moleque no papel de mais um adorável louco de Pedro Almodóvar, o herói que vai do patético apaixonado ao amante caliente. Em síntese, um orfão que sai do hospício e é apaixonado por uma atriz pornô drogada e a sequestra para fazê-la se apaixonar por ele. De resto mais um pouco do delicioso previsível Almodóvar...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Mais um filme de Meryl Streep




Falando em clichê (ver post anterior), segue um dos maiores do cinema atual: Meryl Streep fez um filme ótimo e arrasou. Temos em Simplesmente Complicado (It's Complicated - 2009), com direção e roteiro de Nancy Meyers (a mesma diretora/roteirista de "Alguém tem que ceder - 2003), um filme delicioso e com um tema inovador, por ser uma comédia romântica protagonizada por sexagenários...Meryl Streep, Alec Baldwin (o mais velho do clã Baldwin) e Steve Martin, todos dando aula de interpretação, comédia, e por que não, charme e sensualidade. Um brinde ao cinema que sai do lugar comum, que discute problemas contemporâneos e ainda tem fôlego para entreter. Além de todos os requisitos acima citados, o filme brilha pelo mais importante de todos, ele é despretensioso. Vivemos nesse filme a pós vida já reerguida de uma divorciada, que se redescobre como mulher, profissional, mãe e principalmente nessa leitura: amante. O constante mito da juventude, da velhice, que vimos durante os tempos, limitações e neuras que literalmente criamos, caem por terra.

Ver também Alguém tem que ceder (Something's gonna give - 2003), roteiro e direção da mesma Nancy Meyers, com Diane Keaton e Jack Nicholson, e mais sexagenários e os benesses democráticas do amor.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Clichê?

Woody Allen consegue criar a ilustração perfeita de um delicioso auto-clichê, a alegoria dele mesmo, e de tudo que ele já foi durante todos esses anos de carreira. Os sábios pregam o aprender "a rir de si mesmo", com Woody Allen isso toma proporções faraônicas, para a nossa felicidade.
Um homem hipocondríaco, genial, mal humorado, obcecado pela idéia de morte e com um milhão de teorias: eis o típico herói de Woody Allen, muitas vezes interpretado pelo próprio, ele se confunde com o seu alter-ego, ou quase não se separa dele. Com ele, a ironia seguida de sarcasmo, que segue ainda com humor negro, se auto-define constantemente através da repetição. Em "Tudo pode dar certo" (Whatever works - 2009), ele volta depois de seis anos para New York, e nesse filme tardiamente lançado aqui no Brasil, eu vejo um dos diretores/roteiristas/atores mais genial dos nossos tempos gritando na nossa cara, nova e repetidamente toda a sua idéia de Deus e religião, do amor, do sexo, da sociedade e tudo o mais que há (se é que existe muito mais que isso), e depois de repetir tudo isso para nós, como diria o seu interprete nesse caso, o rabugento Boris Yellnikoff por Larry David, "larvas, lagartos imbecis e cabeças oca", ele deixa a lição: é tudo muito simples, tudo se arruma, por que enquanto procuramos a felicidade perfeita, com todas as nossas fórmulas pré determinadas e moldadas sabe-se lá por que e quando, o acaso se encarrega de ajustar tudo e na maioria das vezes, da forma mais irônica possível. Ironia dentro de ironia, Boris ensina sua pupila e esposa Melodie St. Ann Celestine por Evan Rachel Wood a evitar clichês, mas se encanta após ouvir mais um deles e perceber que um clichê muitas vezes é exatamente aquilo que se precisa ouvir.


Ver também: Hannah e Suas Irmãs ("Hannah and her sisters"-1986), Mia Ferrow é Hannah, uma mulher perfeita, em torno da qual todos giram, em uma história também novaiorquina sobre o sucesso e como ele incomoda.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Isso aconteceria aqui?

Um filme que conta a história verídica de um experimento contemporâneo com alunos do ensino médio, em que um professor entusiasta, na figura de líder, cria um mini-regime ditatorial (autocrático), denominado "A Onda". No começo os alunos, tais como quaisquer alunos adolescentes, não levam a sério, e o encaram como um tipo de jogo para sair da rotina, no decorrer do filme assistimos à sedução real e atual que o totalitarismo, a dinâmica de grupo e consequentemente a sensação de pertencimento podem fazer ao discernimento humano e moral. "A Onda" (Die Welle - 2008), com direção e roteiro: Dennis Gansel, como se vê pelo nome original, é um filme dos bons, alemão.





Assisti a esse filme em uma espécie de êxtase, e também firme na tentativa de não julgar essas personagens que nos são apresentadas, apenas me perguntando muito, no decorrer e depois do filme, como eu, pessoalmente reagiria a uma clima como esse. É algo que realmente não podemos saber. E ainda, no âmbito nacional, me perguntei se um movimento como esse, retratado no filme, iria para a frente. O filme é alemão, e eu naturalmente (ou preconceituosamente), pensei que esse povo poderia ter talvez etnicamente, uma propensão maior à simpatizar com algo do tipo. Pesquisando a história real de todo esse experimento genial e perigoso, descobri que ele aconteceu na verdade nos EUA, na ensolarada Califórnia, logo aqui em cima, na America do Norte. O filme alemão é um remake de um filme americano produzido para a televisão, "The Wave" - 1981. Acredito que muito pela eterna sina nazista que a Alemanha carrega, esse filme - Die Welle - escancara que também todos nós, apenas sendo humanos, podemos ser cruéis, e sob esse ponto de vista, torna o Holocausto crível, palpável, e por isso ainda mais assustador.

Para saber mais sobre "A Onda" - www.thewave.tk
"In 1967, at the Cubberley High School in Palo Alto, California, World History teacher Ron Jones was asked about the Holocaust by a student. 'Could it happen here?'"

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Bons tempos...




Robin Williams e Goood Morning Vietnam!!!



e Tony Manero, lindo, embaixo.

Os velhos (e não muito bons), referenciais

Vou falar de um filme que eu não gostei. Não gosto mais de tachar filmes como ruins, mas o filme em questão mexeu com dois dos meu bons referenciais do Cinema, e deve ser pelo motivo de querer o melhor pra eles, que eu não gostei desse filme. Os produtores de "Surpresa em dobro" (Old dogs - 2009), direção: Walt Becker e roteiro:David Diamond e David Weissman (nem sempre duas cabeças pensam melhor que uma), fizeram algo lindo, eles juntaram Robin Williams – Patch Adams, A Babá quase perfeita, Bom dia Vietnam!, um puta cara genial, que brilhava nos stand up comedy antes de Danilo Gentili pensar em nascer - e John Travolta – Saturday Night Fever, Pulp Fiction, um dos maiores galãs do nosso tempo, um cara que com 20 e poucos anos nas costas, em seu filme de estréia abriu novos precedentes de atuação (bem como Marlon Brando), e até hoje me arrepia com seu Tony Manero dançando nos 70´s. Robin e John me envergonharam. Nesse filme de comédia, com roteirizinho fraco, que até funcionaria com atores menos importantes, e que têm uma responsabilidade menor sobre o seu legado, mas não eles...Nesse filme, subjugados, eles interpretam dois homens da sua idade, melhores amigos, tentando conquistar duas crianças (uma delas, filha real de John), na ficção, os filhos de Robin Williams com Kelly Preston (a mulher de John na vida real), que ele descobre depois de sete anos. Com alguns truques baratos e pouco inteligentes para arrancar risadas, Surpresa em Dobro é "pretty much that", com dois astros...Eu esperava muito mais deles.

E continuando no quesito decepção, temos Sandra Bullock, cujo talento não é diretamente proporcional ao bom gosto para escolher seus filmes (em especial as continuações fracas, "Miss Simpatia 2", "Velocidade Máxima 2"). O filme, o pior que eu assisti nos últimos tempos é: Maluca Paixão (All about Steve - 2009), direção de Phil Traill e roteiro de Kim Barker, estrelando Bradley Cooper (do genial "Se beber não case" - Hangover), ainda um galã em ascensão que não devia fazer filmes desse tipo...enfim, o Oscar dos piores do ano lembrou-se dos dois filmes, Framboesa de Ouro para pior atriz: Sandra Bullock (no mesmo ano em que ela ganhou o Oscar de melhor atriz, complexo não? E ainda uma indicação, dentre outras, para John Travolta, como pior atuação da década.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A mais doce das Nostalgias

A nossa infância é algo que pensamos reconhecer muito bem, por que claro, nos a vivemos. Mas na verdade o que nos resta é um passado estranho que ficou, quando ainda possuíamos imaginação sem limites, nenhuma preocupação e todas aquelas coisas boas dessa época de formação que fica inevitavelmente pra trás.
Eu tinha 10 anos de idade quando assisti à animação Toy Story em 1995. O filme da Disney foi uma revolução na época, produzido inteiramente no computador, algo comum nos dias de hoje, mas lembro-me claramente do cinema que eu estava, lá no interior paulista, cinema que nem existe mais, e lembro-me da emoção e do entusiasmo que senti quando assisti a esse filme,e de como eu me apaixonei por aquelas personagens fantásticas.



15 anos depois, aqui na cidade grande, muita coisa mudou. Toy Story 3 (2010), com direção de Lee Unkrich e roteiro de Michael Arndt, vem acompanhado dessa sensação de que o tempo passou. Uma sensação, diga-se de passagem, maravilhosa. A palavra nostalgia passa pela nossa cabeça, mas ela toma uma proporção jamais sentida. A Pixar (agora dona da Disney), vem com todos os ingredientes a que estamos acostumados: efeitos impecáveis, trilha, visual maravilhoso, mas o ponto forte desse filme mesmo é o roteiro. A construção de personagens impagáveis, profundos, sombrios, coisa pra adulto ver. Eu dou um crédito especial ao personagem do Ken (na voz de Michael Keaton), com cenas impagáveis de engraçadas. O herói memorável, Woody (Tom Hanks), e seu companheiro Buzz Lightyear (Tim Allen), entrando em parafuso algumas horas, pra nossa felicidade.
Como todo bom filme que se preza, ele se define pelo final, emocionante!Fica a lição, como os bons filmes devem deixar...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre Mercado e autenticidade

Estou extremamente nervosa por causa de uma injustiça que tenho visto ser feita aqui nos nossos meios cinematográficos, em relação a um filme que muito me encantou na Mostra Internacional de São Paulo nesse ano, "I love you Philip Morris" (2009), traduzido como "O golpista do ano" aqui no Brasil. Um filme independente dirigido por duas figuras, John Requa e Glenn Ficarra, os quais eu tive o prazer de assistir em um bate papo quase íntimo na Faap juntamente com o nosso embaixador Rodrigo Santoro, que não estrela, mas tbm está no filme. Tenho lido críticas ferrenhas, e me sinto muito frustrada por que elas não conferem. Penso porém, como desculpa para os tolos, que muito da idéia de um filme começa antes da projeção, na sinopse e na forma como ele é divulgado e posicionado no mercado. O filme é um roteiro adaptado da biografia de um cara um tanto quanto notável, Steven Russell (Jim Carrey), que nos lembra muito a personagem de Leonardo DiCaprio em "Catch me if you can", nesse caso corretamente traduzido como "Prenda-me se for capaz". Como os próprios diretores contaram, para o roteiro eles escolheram focar na história de amor de Steven com seu amante Philip Morris (Ewan McGregor ), daí o nome original do filme "I love you Philip Morris". Por motivos mercadológicos o filme foi vendido - leia-se título e poster - como mais uma comédia de Jim Carrey, co-estrelando Rodrigo Santoro, que mal aparece no filme. Tudo isso junto pode ter estragado essa recepção do filme, que está sendo açoitado em praça pública.





Esse seria o poster correto do filme. Dois atores maravilhosos de Hollywood, que mal receberam cachê e fizeram esse filme por curtirem o roteiro e o cinema indie. Um filme tocante, dramático e com um humor adorável. Ewan McGregor está deslumbrante e irreconhecível no papel da biba sensível. Tremenda injustiça!

Prenda-me se for capaz ("Catch me if you can" - 2002), Direção de Steven Spielberg, com roteiro:Jeff Nathanson, baseado em livro de Frank Abagnale Jr. e Stan Redding. Estrelando Leo DiCaprio e Tom Hanks. Filmão!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Brasil arrasando

Desde Cidade de Deus não assisto a um filme com um roteiro tão bem '"bolado". Quando se fala de Cinema brasileiro pensa-se em um grande percurso à nossa frente, em matéria de técnica e tradição ainda temos que correr muito atrás, mas talento com certeza não nos falta, e que mesmo assim, como tudo referente à cultura e esporte no Brasil, exige um esforço sobre humano para se fazer valer, e acontecer. Lutamos contra o nosso próprio preconceito, uma vez que nós brasileiros torcemos o nariz para filmes nacionais, não que isso seja despropositado, por que como já disse, ainda temos muito a aprender com os gringos, até mesmo com os hermanos aqui ao lado (vide "O segredo dos seus olhos" da Argentina), mas como uma cultura ascendente que se preze, a nossa cultura cinematográfica vem juntando feras nos últimos anos, muitos sobrevivendo da Publicidade, mas sempre perseverando no sonho do Cinema, trabalhando com o que têm. A inspiração de hoje é "Estômago" (2008), com direção de Marcos Jorge e roteiro brilhante baseado em argumento de Lusa Silvestre e Marcos Jorge, escrito por uma equipe:Lusa Silvestre, Marcos Jorge, Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito. Mais uma vez temos a prova do esforço, mais do que artístico, principalmente técnico do roteiro cinematográfico, um esforço conjunto de aperfeiçoamento, para que se possa chegar ao resultado de um filme, como Estômago. A partir disso temos também uma direção de atores maravilhosa, com o protagonista veterano do Cinema, João Miguel, um coadjuvante surpreendente por Carlo Briani e especialmente uma ótima atriz no papel de par romântico do "Paraíba", "Alecrim","Nonato" e os diversos nomes desse protagonista dessa grande história. Uma trilha sonora muito boa, que dá personalidade ao filme, e ótima fotografia. Mais um dos bons do cinema nacional, pra nos encher de orgulho e irmos aos poucos nos desfazendo desse auto-preconceito.

Ver também: Cidade de Deus (2003), dirigido não somente por Fernando Meirelles, como poucos sabem, é co-dirigido de igual por igual por Kátia Lund que saiu mal na partilha, totalmente esquecida. Roteiro de Bráulio Mantovani, baseado em romance de Paulo Lins. O melhor filme brasileiro dos últimos tempos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

All about Charlie Kaufmann, all about us!

Freud que estava mais para um cronista que para um psiquiatra, costumava dizer que a partir do pessoal, pode-se tirar grandes descobertas no sentido geral. Foi embasado nessa idéia que ele construiu suas teorias sacramentadas através dos tempos, tais como a teoria da interpretação dos sonhos. Freud interpretava seus próprios sonhos, e através de descrições (muitas das quais, escritas logo no momento em que ele acordava), relacionando-as com sua realidade física e psicológica, para assim formar uma teoria concisa para alguns dos possíveis significados dos sonhos. Muitos o criticam, sua tese foi aperfeiçoada com os tempos, mas o seu ensinamento, que alguns apontam como forjado, é extremamente válido.
Pensando nisso, chego nesse sujeito sagaz aqui embaixo. Charlie Kaufman.





Esse nova iorquino de 50 e tantos anos é o atual tremor consistente das estruturas e dogmas cinematográficos. Esse cara começou a brilhar e foi escolhido uma das 100 personalidades mais influentes de Hollywood, através de seu trabalho como roteirista, profissão pouco (ou nada), glamourosa da industria. Começando com o - pra falar no mínimo - anticonvencional Quero Ser John Malkovich (1999), até a comédia romântica mais louca de todos os tempos: Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004). Charlie Kaufman desconstrói toda a estrutura do roteiro, inventa suas próprias regras, coloca personagens existentes e repetidos no meio da trama, e nos deixa perplexos e loucos com as suas histórias megalomaníacas.
Em meio a toda essa loucura ele fotografa a mais perfeita faceta humana, a nossa natureza egocêntrica. Kaufman não tem medo de assumir o quão obcecado ele é por si mesmo - como todos nós - a ponto de criar um personagem roteirista chamado Charlie Kaufman para seu filme "Adaptação"(2002). Ele nos imputa essa realidade tão forte em nossas vista que chega a doer e nos deixar deprimidos. Os personagens são tão obcecados consigo mesmos, que enlouquecem na busca desse "eu" que nunca encontram. Como todos os autores, temos toques característicos, como a questão da criatividade, da arte, e de como essa busca muitas vezes é extremamente frustrada, e como "clichês" invariavelmente alcançam sucesso (o roteiro do irmão gêmeo de Charlie Kayfman em "Adaptação", por exemplo). Temos com Kaufman uma das locações mais diferentes do Cinema, um andar todo cortado ao meio, por ser o 1/2 de um andar em "Quem quer ser John Malkovitch", onde ele mostrou o grande talento de sua costumeira musa inspiradora, Catherine Keenner, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante.

Alguns preferem separar a função de roteirista e diretor, outros acreditam no chamado cinema autoral, onde roteirista e diretor são a mesma pessoa (funciona com Tarantino e Almodóvar). Eu pessoalmente prefiro Charlie Kaufman em pequenas medidas, mas vai a dica de sua estréia como diretor em:
Sinédoque, Nova Iorque (2008) , roteiro e direção Charlie Kaufman, estrelado por Philip Seymor Hoffman, Catherine Keener. Um filme justo, mas bem deprimente.

terça-feira, 8 de junho de 2010

De volta aos clássicos...

O filme da vez é "Uma rua chamada Pecado" (A streetcar named Desire - 1951), direção de Elia Kazan (o mesmo de Sindicato dos ladrões). É sempre bom ver um filme antigo...pelo menos é o que eu acho. Podemos notar a atuação ainda teatral de uma Vivien Liegh (E o vento levou...), já madura nos seus 40 anos e ainda bela e loira. Revisitamos o estilo preto e branco, mesmo quando o technicolor® já pintava muitos filmes e inovava assim como o 3D nos dias de hj, desde "O mágico de Oz". Mas uma coisa permanece, o talento fenomenal de Marlon Brando em ascendência, em seu segundo filme, aos 27 anos de idade, lindo, como só ele foi, e na atuação orgânica e natural que o consagrou. Seu personagem Stanley, mexe com nossos sentidos, bem como mexe com a personagem de Liegh, Blanche Dubois, irmã da mulher de Brando, que se refugia em sua casa, por não ter mais pra onde ir. Stanley é sensual, bruto, e um homem desprezível, da pior espécie, do tipo que faz, como diz Blanche, crueldades gratuitas, e sua cunhada é a que mais paga por isso. Um grande filme, chocante. Na época teve 3 min do corte final censurados, cenas tensas de insinuação sexual às quais hj para a nossa percepção, mal percebemos no filme atual remasterizado e sem censura. Um grande filme.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Closer...

Closer - Perto demais ("Closer"-2004), direção de Mike Nichols, com roteiro de Patrick Marber, baseado em peça teatral do próprio. Um filme excelente com um raio - X potente sob o nosso panorama das relações amorosas, com personagens inesquecíveis, um Clive Owen (Larry) e uma Natalie Portman (Alice) deslumbrantes na frente de Jude Law e Julia Roberts. Sequências especialmente inesquecíveis, como a de abertura do filme, ao som de Damian Rice e a da foto abaixo, dois corações partidos em uma boite vulgar de striptease.



Ver também um dos melhores filmes de todos os tempos, desse diretor subestimado, Mike Nichols. A primeira noite de um homem ("The Graduate" - 1967), roteiro de Calder Willingham e Buck Henry, baseado em livro de Charles Webbcom. Estrelando Anne Bancroft (a eterna Mrs. Robinson) e o estreante Dustin Hoffman.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Adaptação criativa

Finalmente assisti à "Julie e Julia" (Julie & Julia - 2009), com roteiro adaptado de dois livros: Julie & Julia", de Julie Powell, e "My Life in France", de Julia Child e Alex Prud'homme e também direção de Nora Ephron. O filme é estrelado pela recordista do Oscar, Meryl Streep (versátil como poucos desde "As Pontes de Madison" com o rei Clint Eastwood, até atuar em uma das obras do maluco beleza Charlie Kaufmann em "Adptação"), o que já é uma pedida ganha de filme, não conheço um sequer no qual ela trabalhou que não fosse bom ou simplesmente excelente. No téte a tete com a grande atriz, temos a jovem e promissora Amy Adams (Encantada, A dúvida - tbm com Mery Streep), todos sob a tutela não pretensiosa e sensível da diretora Nora Ephron - vi que o nome não me era estranho, e depois confirmei que é a mesma diretora dos clássicos dobradinha com Meg Ryan e Tom Hanks, "Sintonia do Amor" e "Mensagem para você".

A história narra o processo de criação do blog de Julie Powell (personagem de Adams), cuja meta é fazer todas as 524 receitas da maior (em todos os sentidos), cozinheira americana, Julia Child (Streep), no prazo de um ano.
O filme é uma grande aula de adaptação de livro, vidas, e sentimentos para o roteiro cinematográfico. Nora Ephron transcende a costumeira licença poética para, a partir do recorte de Julie Powell, ilustrar a vida de sua guru Julia Child, focando nos anos que a mesma viveu em Paris, aprendendo tudo sobre a culinária francesa, que mais tarde ela popularizou através de seu livro (agora na 49a edição), "Mastering the Art of French Cooking".

O filme tem diversos lances singelos, olhares, sensações e anseios que não são ditos, mas ilustrados belamente, do jeito que o cinema deve ser. Andava com medo dessa onda que prioriza a direção de arte e efeitos 3D no cinema, sentindo uma falta constante de sentimento, e humanidade, bom saber que ainda existem filmes como Julie e Julia e roteiristas como Nora Ephron.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A redescoberta de Almodóvar

Ontém fiz uma sessão particular, (finalmente) de Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos - 2009). Tento assistir esse filme desde seu lançamento em meados de 2009 em um festival na Alemanha. Voltei para o Brasil, e tentei assisto-lo na Mostra de São Paulo, acabei enrolando e só fui assistir ontém a noite a esse novo conceito de Pedro Almodóvar. Ao assistir a um filme, ainda mais de um diretor querido como o é o Pedrão, sinto-me conquistada antes dos créditos iniciais. Preciso assumir que nesse caso fiquei perplexa. Procurei traços característicos, resquícios de Almodóvar por todos os lados...não encontrei muita coisa, além da atriz Blanca Portillo no papel de Judit e a musa Penélope Cruz como Magdalena, presentes também as cores vibrantes e figurino impecável, impressionante como um homossexual assumido pode valorizar tanto as formas femininas. Os ingredientes estavam lá, a paixão, o sexo, as drogas (dessa vez as sintéticas), Madri, o vermelho, o ciúme doentio, em um drama almodovariano, pura e simplesmente. onde não se vê as tiradas sarcásticas, a comédia normalmente presente. Foi nesse momento que pensei, se realmente apreciava o filme, ou se o nosso mestre teria perdido a mão. A conclusão foi o contrário. Percebi que depois de muita experiência, de muita estrada, um diretor/autor do porte de Pedro Almodóvar, pode se dar ao luxo de trilhar os caminhos que bem entender sem se prender ao seu próprio estigma. Dentro da excentricidade maravilhosa desse cara, ele consegue ainda se auto homenagear, em um filme metalinguístico, com um filme dentro de outro filme, um mini "Mulheres a beira de um ataque de nervos", além das participações de atrizes que se tornaram sinônimo de Almodóvar: Chus Lepreave e Rossy de Palma . A estética é maravilhosa, uma cena na praia nos lembra a cena final de "La dolce vita" do mestre do mestre, Federico Fellini. Uma homenagem ao cinema, mas eu ainda escolho as antigas risadas...

Ver também, em mais um dos poucos dramas de Almodóvar, Má Educação (La mala educación - 2004), como sempre dirigido e escrito por ele, não necessariamente nessa ordem, considerado uma auto-biografia, com Gael García Bernal e um dura crítica, novamente, à Igreja, principalmente aos padres.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dica da semana: "Na mira do chefe"



A dica é o filme Na mira do chefe ("In Bruges" - 2008), direção e roteiro de Martin Mcdonagh. Colin Farrel (Ray) estrela essa comédia de humor bem inglês, sobre um funcionário, na verdade um assassino, Ray e seu parceiro Ken interpretado pelo ótimo Brendan Gleeson, que "graças" ao chefe (Ralph Fiennes), são mandados para Bruxelas (do título original Bruges), sob o pretexto de descansarem depois de muito trabalho. Na verdade, eles estão na cidade para que o personagem de Ray, um figura extremamente mal humorada, mas com uma pitada de doçura, possa aproveitar seus últimos momentos de vida, já que Ken, seu parceiro, recebe a missão do chefe para matá-lo, por causa de um erro que Ray havia cometido anteriormente. O filme tem ótimas sacadas, ótimas interpretações, e mais uma vez, é despretensioso. Comecei a assistir com pouco caso, mas acabei ganhando bons momentos de entretenimento do bom. Missão cumprida do Cinema.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Puro sentimento

Vale a pena relembrar quão pequeno somos, e como precisamos de pouco para sermos felizes. Volto-me para a década de 40, em meio à segunda grande guerra, longe dos canhões, perto das reais mazelas e bombas sociais, onde se passa a história de Vittorio de Sica, diretor de Ladrões de Bicicleta (1948 - Ladri di Biciclette). Um filme dos bons de guerrilha, com quase nada de orçamento, uma direção maestral de atores amadores, e uma história que toca na sua simplicidade, e no alvo direto que se aloja na nossa moral e auto estima humana, na reflexão de até onde podemos ir na necessidade. Olhares, detalhes, isso que faz um cinema de qualidade, coisas que infelizmente passam despercebidas, ou se supervalorizam e plastificam-se no nosso atual cinemão tecnológico.

Ver também: Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso - 1988), direção de Giuseppe Tornatore, passa-se após a Segunda Guerra, nos anos que antecederam a chegada da televisão, quando o cinema hipnotizava a maioria das pessoas. Sobre a amizade de um garoto e um senhor projecionista, que surge do e no cinema. Maravilhoso!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma realização inspiradora

Eu tinha que assistir a um filme pela quarta vez na vida. Isso acontece com freqüência, já comentei como o filme é também um produto como outro qualquer, muitas vezes temos certeza do que precisamos para aquele exato momento como resposta a uma necessidade real, foi esse o caso nesse sábado chuvoso. Estava ultimamente sentindo um vazio de esperança, um fogo que faltava dentro de mim, um perigo para uma pessoa apaixonada: esfriar. O cinema entra como o meu placebo pessoal, na embalagem do filme O diário de uma paixão (The Notebook - 2004), dirigido por Nick Cassavetes e o que eu considero a melhor história de amor contada nos últimos tempos, até mesmo maior que Casablanca, e o Vento levou ou Doutor Jivago, paradigmas clássicos românticos. Muitos logo o chamariam de mais um filme água com açúcar, enfim...já eu penso isso por uma qualidade nem sempre lembrada: a despretensão. O personagem principal e narrador, a relação, tudo é despretensioso (menos as locações fantásticas da Carolina do Sul nos EUA). O filme é baseado no besteseller americano homônimo do autor Nicholas Sparks, com roteiro adaptado de Jeremy Leven. Ele conta a história de um homem, cuja maior realização na vida foi viver um grande amor, em uma adaptação, produção, direção, atuação, como triunfo de um processo cinematográfico que colore essa história em frente aos nossos olhos, só precisamos aproveitar a jornada, sentados no escuro de uma sala, onde o extraordinário é possível. Uma vez um amigo me respondeu o seguinte quanto ao seu futuro profissional: “eu quero encontrar um grande amor, o resto, a parte profissional, eu corro atrás, por que só depende de mim.” Algo do tipo, foi há uns seis anos, e eu nunca me esqueci. Sábias palavras.

Pra quem se interessa pelo gênero, vamos consumir amor de vez em quando, estréia nos cinemas: Querido John (Dear John - 2010), direção de Lasse Hallström, com roteiro de Jamie Linden, baseado em livro do mesmo de Nicholas Sparks.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Almanaque da Paixão

Segundo o Dicionário de Cinema, encontrado no site FILME B (http://www.filmeb.com.br/portal/html/portal.php):
SEQÜÊNCIA - (1) Uma série de tomadas (cenas) ligadas por continuidade.
Normalmente falo de filmes inteiros, nesse post em especial, gostaria de enfatizar uma das sequências mais sexy dos últimos tempos, que se resume mais ou menos nisso:
Abrimos com uma Jennifer Lopez sentada solitária em uma mesa de um bar sofisticado, ao lado de uma janela, ela olha pra fora fora, onde neva. A garçonete vem e ela pede um Bourbon. Em segundo plano vemos três homens bem vestidos, aparentemente em final de expediente observando-a. Eles conversam, riem, e comentam sobre ela. A garçonete vem com a bebida e diz que os senhores gostariam de pagá-la pra Karen, a personagem de Jennifer, ela educadamente diz que prefere pagar ela mesma. O primeiro dos homens se aproxima dela, mas não tem chance. Ele cruza com um segundo mais atrevido que sem permissão senta-se à mesa, fala sem parar, e no final recebe um “Who gives a sheat”. Ele vai embora humilhado. Close somente nela, tomando calmamente e dispersa o seu Bourbon, abre-se o plano de leve e vemos uma mão conhecida, brincando caracteristicamente com um isqueiro de prata. Ela ouve, ela olha pra cima. Jack Foley (George Clooney) se senta. A mudança é clara, a atração entre aquelas duas pessoas é palpável, o plano se fecha no mundo que são eles. Nos cortes seguintes, assistimos a um jogo de sedução e afinidade que vai de uma conversa informal e até um striptease duplo. Seguramos nosso fôlego e hormônios, eis a descrição do amor ideal.
O fillme é Irresístivel Paixão (Out of Sight - 1998), direção de Steven Soderberg, um cara cool. Logo mais, alguns embates dos cool directors. Uma conversa entre “Tarantino (Kill Bill) x Jason Reitman (Juno) x Soderberg (11 homens e um segredp) x Cameron Crowe (Quase Famosos)”. Aguardem.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Filmes pra idiota ver. Prazer, Idiota.

Desde meados dos anos 70, quando surgiu o sexteto inglês (esse sim fantástico), do grupo humorístico Monty Phyton, nós recebemos um grande presente: rir sem razão nenhuma de como somos ridículos, para tal feito, exige-se uma inteligência das mais extraordinárias, a que é voltada para o humor, ou seja, a caricatura da vida real. Dentro de situações non sense, encontramos a coesão da vida ocidental que aprendemos desde o nascimento, tudo de repente pesa menos, temos como que a permissão de rir loucamente de um cara irritando voluntariamente outro cara, ou de uma entrevista de emprego absurda (um pouco como todas as entrevistas...).
Dessa safra, temos um ótimo exemplar de humor no atual "Se beber, não case!" ( "Hangover" - ressaca em inglês - 2009), direção de Todd Phillips, roteiro maluco de Jon Lucas e Scott Moore. Como pessoa estudada é preciso bastante personalidade para assistir filmes desse tipo, com esse humor escrachado e basicamente tido como idiota. É preciso ainda mais desapego, ao sentar-se em frente a todos em uma sala de projeção, e literalmente chorar de rir com as aventuras desses quatro amigos, vale citar o elenco que arrasa, Bradley Cooper (Phil Wenneck), Ed Helms (Stu Price), Justin Bartha (Doug Billings), e principalmente o gordo genial Zach Galifianakis (Alan Garner), que vão para Las Vegas por uma noite para fazer uma despedida de solteiro de um deles, e acordam no dia seguinte à grande (e subestimada) noite, com aquela ressaca, e o pior, a maior amnésia já vista! O cenário é desolador, um bebê sozinho no armário, um tigre no banheiro, aparição de Mike Tyson, referências a cenas de Rayman, muita liberdade criativa, e quase zero de puritanismo americano, o que é o melhor! Muitos torcem o nariz, mas a maioria recomenda essa grande surpresa de 2009, e já um clássico do cinema.

Ver também o maior dos clássicos: Debi & Loid: Dois idiotas em apuros (Dumb and Dumber- 1994), direção dos irmãos Peter Farrelly e Bobby Farrelly, mesma dupla de "O amor é cego", com Jim Carrey e Jeff Daniels.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O melhor filme de todos os tempos

I´m Jack´s broken heart.
You do not talk about it.
You do not talk about it.
The things you own, end up owning you.
Você tem um motivo. Você tem um protagonista em dose dupla, como JAMAIS se viu parecido no cinema. Você tem uma crítica dura ao sistema e a todos nós que fazemos parte dele sem nos perguntarmos o porquê ou melhor, como. Você tem um amor dos mais loucos já visto. Você tem um final surpreendente. Eis o maior filme de todos os tempos: Clube da luta.
Há uns bons três anos minha resposta quanto ao meu filme preferido é enfática, não é a toa que temos um Tyler Durden, "o cara" ai em cima como "papel de parede" do site. Temos nesse filme um roteiro acelerado e genial. Literalmente não temos um segundo de marasmo desde a primeira cena de Edward Norton com uma arma na boca, ainda se perguntando se a arma está limpa. O filme é uma construção milimetricamente perfeita de aula de sociologia e existencialismo, humor, ação e por que não, romance. Que tipo de arte/mídia pode se dar ao luxo de juntar existencialismo com ação? Clube da Luta pôde. Ainda como um bom verniz para toda essa obra de arte, temos figurino (os casacos de pele e camisetar pops de Tyler Durden), direção de arte (toda a locação da casa abandonada) e trilha sonora (com The Pixies e "Where is my life" na apoteose), maravilhosos. A edição e produção de efeitos são um filme a parte, brincando a todo momento com a nossa percepção de tempo e espaço.
Como todo bom roteiro não garante todo o sucesso final, temos tão ou mais principalmente as atuações e a química entre os profissionais. Edward Norton, Brad Pitt e Helena Boham Carter transpiram a loucura e o comum desses personagens que guardam um pouco de todos nós reféns da vida moderna. Sob a direção de David Fincher, toda essa salada ainda é cool.
Estava mesmo precisando de inspiração, um bom filme nunca é o mesmo cada nova vez que se assiste.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cinema brasileiro que vende

O cinema brasileiro teve seu auge de público - ainda imbatível - lá nos anos 70, na época da Boca de Lixo, conhecida como pornochanchada, que ficava na Rua do Triunfo em São Paulo (atual Crackolândia). Depois das chanchadas, nessa mesma linha de grande público tivemos nos anos 80 os clássicos dos Trapalhões e outros Lua de Cristal e patentes da rainha dos baixinhos. Um tanto deprê pra quem é brasileiro e ama Cinema. Entretanto, há um luz brilhante no fim do túnel, e para uma otimista de carteirinha como eu, uma luz promissora que começou na corrida pro século 21 em uma leva de bons filmes que agradam a crítica e chamam a atenção do mundo. Em 1997 temos um "O que é isso companheiro?" (o melhor filme brasileiro na minha opinão), de Bruno Barreto que é fortemente cotado na época ao Oscar de melhor filme estrangeiro, seguido por Central do Brasil (Walter Salles - 1998), também indicado ao prêmio. Nos contemporâneos Cidade de Deus (Fernando Meirelles - 2002) e Tropa de Elite (José Padilha - 2007), enxergamos a evolução tecnológica e narrativa desse cinema, transformando esses filmes em verdadeiros cults que paradoxalmente caem na boca do povo.Todos mostram uma realidade brasileira característica no sentido histórico ou sociológico (ditadura, pobreza, violência). Ontém eu assisti a uma nova promessa tupiniquim, já com um apelo mais universal do adolescente, que segue de uma leva mercadológica iniciada pelo casal Laís Bodanzky e Luiz Bolognese (Chega de Saudade - 2008), uma dupla de diretora e roteirista respectivamente do filme que estea em cartaz em várias salas de cinema: As melhores coisas do mundo (2010).



Cena maravilhosa de mãe e filho.


Baseado em uma série de livros de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto ("Mano"), o filme foi um orgulho sentido no peito do começo ao fim. O cinema cumpriu seu papel importantíssimo ao retratar uma geração, e eu me vi naquela ilustração dessa fase profunda da puberdade e da formação de caráter que é o ensino médio. Luiz Bolognese dá uma aula de roteiro, com todos os pontos de virada e conflitos bem marcados, e principalmente na linguagem esmiuçada dessa molecada de 15 a 17 anos. No mérito de Laís Bodanzky, encontramos excelentes interpretações do protagonista Mano (Francisco Miguez), sua melhor amiga Carol (Gabriela Rocha), seu irmão Pedro, o futuro super galã Fiuk e uma Denise Fraga à flor da pele como a mãe que sofre calada. E o golpe baixo de ter os direitos da melhor música dos Beatles: Something composta pelo subestimado George Harrison. Como toda boa obra, eu tenho que ser clichê e dizer que faz rir, chorar, ficar apreensivo, e mais um turbilhão de sentimentos obrigatoriamente suscitados por um bom filme. E o melhor de tudo, é um filme que vende.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Eu não estou lá

Ele é todos. Ele é nenhum deles. Bob Dylan encaixa-se muito bem como bode expiatório para essa concepção humana de múltiplas personalidades. Os roteiristas Oren Moverman e Todd Haynes utilizam-se de uma das figuras mais deslumbrantes ainda vivas, principalmente pelo fato de ser uma pessoa autêntica, para a construção desse filme/documentário/clipe. Eu não costumo escutar Bob Dylan. Tenho um cd dele, da fase do "Blowin' in the wind" (The Freewheelin' Bob Dylan - 1966), quando ele tinha apenas 22 anos, e sinceramente, adoro as letras, mas não aguento a voz dele e o ritmo arrastado por mais de duas músicas. Ao que me interessa, sei que ele teve um encontro animado com os Beatles no meio dos anos 60, e que apresentou a bendita erva a eles, causando grande impressão, principalmente em John, não só pessoalmente, como musicalmente falando, o que já é interessante de se pensar.



Toda essa minha comoção no sentido da vida de Bob Dylan partiu desse filme a que assisti ontém, extremamente cansada, segurando para não dormir, não por ser tedioso, muito pelo contrário: Eu não estou lá (I'm not there - 2008) direção e roteiro de Todd Haynes, já é desde o começo um parque de diversões pronto pra mim, tendo o meu saudoso Heath Ledger (que parece nunca parar de lançar novos filmes, mesmo póstumos), Christian Bale, Richard Gere, Charlotte Gainsbourg (a nova querida de Lars von Trier), participação da minha musa Julianne Moore e uma Cate Blanchet, que como todos e o Oscar sabem, rouba a cena.
A trilha sonora, apesar de Dylan não ser minha preferência musical, segue organicamente a ordem cronólogica (se é que é possível uma ordem dentro de tanto "caos" narrativo e núclear), e o filme se torna algo difícil de resumir, nomear, entender, criticar, mas faz sentido. Acredito que tudo isso coerente à figura de Bob Dylan.

Simpatizei de verdade com as idéias dessa pessoa atéia, religiosa, simples, consumista, adorável, grosseira, e incrivelmente talentosa. Um poeta, que não admite ser chamado de poeta.
Um diálogo em especial de Heath Ledger, como um dos Bob, interessa-me muito. Ele é indagado por um amigo, sobre o por que de sua mudança repentina (por causa do sucesso, no modo de se vestir), que ele "não é/era assim", ao que "Bob" responde "você há um minuto atrás tinha a voz em outro timbre" ou algo do tipo...o velho lance do rio que você se banhou nunca será o mesmo no dia seguinte, e toda essa quebra que ele representa, quebra do que está arraigado, quebra daquela versão repetida do que é a vida, a música, os sentimentos. Um talvez admirador tupiniquim bem diria um dia: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante...".

Ver também na linha "biográfica", um filme muito querido: Chaplin ("Chaplin" 1992), Direção de Richard Attenborough (diretor da também biografia "Gandhi"), roteiro de William Boyd, Bryan Forbes e William Goldman, baseado nos livros de David Robinson e Charles Chaplin. Robert Downey Jr como o eterno mendigo "Carlito", dentre outros, a história de um homem adorável e genial, que se mistura com a própria história do Cinema.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Romance Verdadeiro/Romance de Verdade

Amor à queima roupa (True Romance - 1993) é um filme de Tarantino. Nessa época, o agora famoso diretor, ainda treinava a carreira que agora conhecemos, vendendo seus roteiros para conseguir verba para realizar seus próprios filmes. Em uma dessas empreitadas ele vendeu "True Romance" para ser dirigido por Tony Scott e na mesma época "Assassinos por natureza", para ser dirigido por Oliver Stone. Com esse dinheiro ele produziu, o que na minha opinião foi seu melhor filme, the very first: Reservoir Dogs (Cães de aluguel - 1992).

Toda essa introdução a respeito de Quentin Tarantino, que assina o roteiro do filme em questão, é pra enfatizar, a falta que eu sinto (com toda a unilateralidade de uma fã), da direção dele nos filmes que ele escreveu. Amor à queima roupa é um ótimo filme, e todos os ingredientes indispensáveis tarantinescos estão presentes, mas aquela nostalgia do maestro original permanece o tempo todo. Algumas cenas de violência, como é de praxe, passam do limite estético, ultrapassando uma linha violenta que está lá em Pulp Fiction, Kill Bill... mas nunca é invadida. Com Tarantino aprendemos um novo tipo de gênero de ação/entretenimento leve. A fórmula é só dele...mas mesmo assim vale a pena sentir o amor louco de Clarence (Christian Slater) e Alabama (Patricia Arquete), assistir a um Brad Pitt brisando com os bandidos na casa, um Gary Oldman totalmente transfigurado com dreads e olho de vidro como um cafetão branco que se acha negro, e até mesmo uma passagem relâmpago de um Samuel L. Jackson no começo, praticamente um figurante.

Ver também (ou não) Assassinos por natureza (Natural born Killers - 1994) Direção de Oliver Stone, roteiro adaptado de história de Quentin Tarantino. Juliette Lewis e Woody Harrelson são Mickey e Mallory, um casal apaixonado e louco por violência que saem assassinando pessoas pelas estradas americanas, são presos e convidados a participar de um programa de televisão tornando-se celebridades. Acho esse filme vulgar, poluído e superestimado.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando a cobrança recai sobre terceiros

Com a melhor didática possível, o cinema por meio dos filmes “A outra história americana” (American History X - 1998 Direção de Tony Kaye) e “O poderoso chefão III” (The Godfather III - 1990 Direção de Francis Ford Copola), ensinou-me um pouco mais sobre a vida, colocando situações e principalmente escolhas em perspectiva.
Por coincidência em um fim de semana tranqüilo em casa, escolhemos dois filmes, com lições de moral semelhantes: como as nossas escolhas e o modo como escolhemos viver podem afetar os outros.



O primeiro, um dos melhores filmes de todos os tempos, mexe com nossos sentimentos em carne viva. O proganista Derik (Edward Norton) é-nos apresentado literalmente nu, em toda a sua virilidade de macho alpha que pretende ser em detrimento das demais raças tidas como inferiores por ele, um líder skinhead. Acontece como em todo filme digno de fazer parte da minha pequena coleção de preferidos, que Derik tem, como a maioria dos seres humanos, muitas justificativas para ter chegado ao caminho pelo qual escolheu trilhar. De repente, não simpatizamos mas conseguimos entender de alguma forma a causa que ele abraça, como única saída para a sua realidade e de sua família, como resposta aos acontecimentos e ao assassinato do pai. Ele como líder nato, resolve liderar os jovens brancos americanos, contra aquilo que julga ser a soma de todo o mal que os assola, toda sorte de imigrantes e negros. A história gira em torno de um trabalho dado ao irmão mais novo Danny (Edward Furlong), que pretende seguir os passos do irmão "herói", um caminho no mínimo ideologicamente asqueroso. Nesse ínterim encontramos a personagem inspiradora do Prof. Bob Sweeney (Avery Brooks), que resiste em desistir de seu aluno mais brilhante, encontramos uma mãe, uma viúva ainda jovem e bela que tenta sobreviver ao próprio filho e ao que ele se tornou, como ela mesma minimiza: “um garoto sem pai”, e principalmente saboriamos a história de amizade forçada a principio, para depois ser salvadora, entre um skinhead cheio de ódio na cadeia, e um negro condenado a seis anos por ter roubado uma televisão, que acaba por salvar a "alma" do amigo. Derik desiste de sentir raiva, ele muda a perspectiva, ele tem ótimas intenções, mas a moral que fica é que somos responsáveis pelas nossas ações, mas as pessoas ao nosso redor também sofrem as consequências.
Nessa mesma linha temos na última parte da trilogia gloriosa do clã Corleone, toda a trajetória de um líder temido e não amado. Michael Corleone acerta suas contas com a família e com Deus. O arrependimento de uma vida não se mostra suficiente.

Ver também: Lanternas Vermelhas (1991) Direção Zhang Yimou. Sobre uma garota chinesa orfã que decide tornar-se a quarta esposa de um homem rico. A disputa entre as esposas tornar-se mortal, e a jovem ambiciosa, porém inexperiente Songlian também acaba fazendo escolhas questionáveis afetando terceiros.

terça-feira, 30 de março de 2010

Tudo muda na vida. Menos uma Paixão.

Ontém em meio da chuva recorrente, resolvi parar no meu atual cinema preferido da capital paulista, o Reserva Cultural. Lá, além de filmes difíceis de serem encontrados no circuito nacional de estréias, podem ser encontrados também os mais comentados do Oscar, como nesse caso um filme argentino, um primo próximo (geografica, porém não cinematograficamente): "O segredo de teus olhos" (El secreto de sus ojos - 2009), com direção primorosa de Juan José Campanella, a partir de roteiro do mesmo e Eduardo Sacheri, baseado em livro de Eduardo Sacheri.

Esse é um daqueles filmes completos (há humor, suspense, romance, drama, ação), não consigo imaginar alguém que possa não se apaixonar, ou pelo menos emocionar-se com ele. Uma sequência, clichê a priori, abre o filme com uma bela mulher correndo atrás do trem onde está o seu amado, apenas conseguindo, do lado de fora, juntar sua mão à mão dele sob a janela. Esse começo mostra-se pertinente no final, e do começo ao fim somos cativados pela história de Benjamin, sua amizade deliciosa com o adorável bêbado Sandoval e por seu amor profundo e impossibilitado, não tão dramaticamente, mas apenas pelas circunstâncias, pela heroína moderna, Irene (Soledad Villamil).

Benjamin (Ricardo Darín) e Sandoval (Guillermo Francella) são oficiais da justiça, eles trabalham com burocracia, estão sempre literalmente em meio aos papéis empoeirados, e costumam ficar insensíveis aos casos com os quais lidam todos os dias, até o dia do estupro e assassinato da jovem Lilliana, quando Benjamin, à contragosto é chamado para olhar o caso. De repente ele parece acordar de uma vida amorfa ao ser tragado pela impunidade de um crime desse tipo, e pelo respeito que sente pelo amor do viúvo, que ele nutrirá por essa esposa morta até o fim, um amor intenso, como diz o próprio Benjamin, que se vê através dos olhos. Uma premissa da trama é guiada pela idéia de paixão e em como ela nos guia durante toda uma vida por ser imutável.


Cinemão dos bons!Valeu o Oscar de melhor filme estrangeiro, e por que não, de Melhor Filme do ano e ponto.

Ver também um outro indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro: A fita branca (Das weisse Band: Eine Deutsche Kindergeschichte - 2009, do literal, "A fita branca- uma história alemã sobre crianças). Direção do polêmico diretor austríaco Michael Haneke. Um filme genial que se passa em um tempo que antecede a primeira grande guerra, todo em fotografia P&B, que ilustra as raízes pedagógicas do que viria a se tornar a nação responsável pelo holocausto.

terça-feira, 23 de março de 2010

O que é certo para você?

Tempos atrás, em mais uma daquelas coincidências de locadora, ao olhar um filme na estante de lançamentos, tive a feliz idéia de escolher: Medo da Verdade (Gone baby Gone - 2007). Esse filme foi dirigido por, ninguém mais que Ben Affleck. E muito bem dirigido diga-se de passagem. Quem pensa em um dos galãs mais famosos do cinema contemporâneo, da chamada nova geração (que nem é mais tão nova), acaba esquecendo-se de que esse ator surgiu ao ganhar o Oscar de melhor roteiro original, assim de cara, com seu parceiro Matt Damon para Gênio Indomável há exatos 10 anos antes*. Como na outra postagem, volto a levantar a moral dos galãs, muitas vezes subjugados por causa da beleza colocada sempre em primeiro plano. Esse filme é como Sobre Meninos e Lobos, inspirado no livro homônimo de Dennis Lehane, nesse caso adaptado para roteiro de cinema por Aaron Stockard e Ben Affleck.

Os protagonistas são a dupla de detetives já conhecida de outras criações de Lehane, Angie Gennaro e Patrick Kenzie, aqui interpretados por Michelle Monaghan e Casey Affleck (sim, o "irmãozinho" do diretor, que pode ser encontrado também, no mesmo ano, ao lado de Brad Pitt em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford - 2007, e indicado ao Oscar de ator coadjuvante pelo mesmo).
A trama gira em torno do sumiço de uma criança, em toda uma comoção consequentemente gerada no local, mesmo em detrimento da má fama da mãe, drogada. Os acontecimentos se desenrolam, até o momento limite, em que questões éticas principalmente, entram em colapso com o relacionamento de amizade e amor dos protagonistas. Um desconforto final divide opiniões. O filme oferece uma boa licença poética para pensar nossas próprias vidas, em como determinadas atitudes podem ou não nos chocar.

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007) Direção Andrew Dominik, com Brad Pitt. Sobre um dos legendários fora da lei dos Estados Unidos, Jesse James e seu destino surpreendente.

Ver também Gênio Indomável (Good will hunting - 1997) Direção de Gus Van Sant, com Robin Williams, Matt Damon, Ben Affleck. Roteiro ganhador do Oscar de roteiro original para Matt Damon e Ben Affleck. Sobre um garoto simples, que é obrigado a fazer terapia para que possa esmiuçar seu talento genial.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A arte (às vezes) imita a vida

Ontém a noite, passando da hora de dormir, a nossa querida TV aberta conseguiu sugar a minha atenção com "De repente é amor" (A lot like love - 2005) direção de Nigel Cole. Cheguei tarde e cansada em casa, deveria continuar lendo meu livro, tomar logo um banho e dormir, mas aconteceu uma daquelas deliciosas coisas espontâneas do cinema. O filme foi me segurando, só mais esse bloco, só mais esse bloco, até que eu fiquei até o fim. Eu já assisti a esse filme em questão umas três vezes, contando a de ontém, e é engraçado ir vendo o filme, várias vezes, no decorrer da vida, e de forma diversa pensar como ele pode ser lido.
No decorrer desse filme eu pensei em várias coisas. Primeira: Ashton Kutcher é um ótimo ator. Um dos melhores da nova geração. Muitos podem pensar, pq?Que papel importante, dramático e marcante ele fez até hj?Além de talvez o protagonista de Efeito Borboleta*. E tá ai um senso comum, essa coisa de pensar que um ator só se mostra, só é realmente bom ao interpretar alguém louco, ou muito sádico, ou retardado, enfim, vcs entenderam. Essa simplicidade que ele usa, ao interpretar o Oliver do filme, um personagem com o qual prontamente nos identificamos, em seus altos e baixos, em sua falta ou encontro de direção na vida adulta. Ela, Amanda Peet seu par amoroso, também fica à altura nessa parceria, mas o mérito vai diretamente pra ele, uma atuação despretensiosa e exata.
Seguindo a mesma linha,em segungo lugar, pensei nesse gênero comédia romântica, ao qual muitos dos cinéfilos e críticos de plantão torcem o nariz. A crítica: o clichê do "lógico que no final eles ficam juntos". Em uma comédia romântica na verdade, o foco se direciona ao "como" eles ficam juntos, em que condição. E eu acredito, que tal qual, a interpretação de um cara comum, sem maiores características excêntricas e que mesmo assim nos cativa, é ainda mais difícil de ser realizada, quanto também, o roteiro de um filme com final conhecido é muito mais difícil de ser escrito de maneira inovadora e com qualidade.
E "terceiramente", para finalizar, tudo o que acontece no filme é crível. A cidade grande e o nosso trabalho, eternos antagonistas dentro de um romance, participantes importantes dentro de uma história de amor. Fatores que determinam quase tudo. O dito pelo não dito, o desencontro, os enganos, as dores que continuam existindo mesmo com um novo amor, um novo interesse, a coragem de assumir, e o mais importante, ter certeza que o outro também quer. O fazer-se de bobo. Completamente.
Esse filme é uma delicia, e é bom comprovar muitas vezes que a arte imita a vida, mesmo!

*Efeito Borboleta (Butterfly Effect - 2004) Direção e Roteiro (genial diga-se de passagem) de Eric Bress e J. Mackye Gruber. Com Ashton Kuchner, Amy Smart e Elden Henson. Bela ilustração sobre o efeito que consistiria na teoria do caos de que a batida das asas de uma borboleta de um lado do planeta, pode causar um terremoto do outro. Um garoto que consegue voltar ao passado no intuito de conserta-lo, mas acaba descobrindo em decorrência, resultados ainda piores no futuro.

quinta-feira, 11 de março de 2010

As luvas de pelica e o humor de Almodóvar

Ontém assisti a um desses filmes deliciosos, feitos em um época em que eu ainda nem era nascida. Trata-se de Maus Hábitos (Entre Tinieblas-1983), o terceiro longa metragem do roteirista/diretor Pedro Almodóvar.
Acho que um pouco dessa minha personalidade afirmativamente nostálgica, ajuda-me a ter uma admiração maior pelos filmes antigos de meus diretores mais queridos. Maus hábitos é um açoite a tudo o que eu aprendi em minha educação católica. Nesse filme encontramos como um núcleo cômico/trágico quatro freiras, as "redentoras humilhadas", religiosas lascivas, gulosas, e viciadas em drogas pesadas como heroína e àcido. As irmãs em questão: Esterco, Rata de esgoto (um dos personagens mais cativantes que já vi, interpretada por Chus Lampreave), Perdida e Víbora, auto denominadas assim, pelo que seria parte dessa humilhação proposta como castigo e subserviência.



Trata-se de algum daqueles exercícios ao qual temos acesso apenas através da arte. O ato do desapego de valores, pré conceitos e estereótipos, e que a partir das mãos de Almodóvar, encontram coerência mesmo em se tratando das mais bizarras histórias. De freiras viciadas a um tigre doméstico morando em um convento. Com ele há sempre uma segunda chance para os desamparados e julgados pela sociedade como seres baixos e inferiores, ele arregala os nossos olhos, e nos mostra que todos temos defeitos, erros, e nem por isso deixamos de ser humanos e de buscar o amor. Este, o objetivo principal de todos os seus heróis (principlamente heroínas), em detrimento das leis do Homem e recorrentemente, a despeito das leis de Deus.

Ele traz muito desse rancor ou leitura pessoal, como queiramos entender, a respeito da Igreja católica, cenário onde foi educado desde a infância (ver seu filme considerado autobiografico: Má Educação - 2004, sobre padres, pedofilia e homossexualismo).
Maus Hábitos, segundo o livro "Conversas com Almodovar", foi patrocinado por um milionário de Madri, que teria colocado como condição que sua namorada/mulher Cristina S.Pascual, a pouco expressiva cantora Yolanda Bell do filme, que vai morar no convento em busca de refúgio, estrelasse a história. Ela é o interesse romântico da musa (real) de Almodovar, Carmen Maura, a irmã "Perdida'.
Apesar de todo o enredo maluco e pouco ortodoxo, Pedrão consegue nos emocionar, e nos equiparar a esses personagens tão abomináveis às leis da sociedade, e este é o grande mérito dele, fazer o impossível, e ainda nos tirar boas risadas.

Como dica, fica um dos que podem ser considerados predecessor do estilo Almodovar de direção. O italiano Federico Felline (La Dolce Vita - 1960) em um de seus últimos longas: Ginger e Fred (1985), sobre o reencontro de um casal de bailarinos depois de anos, já senhores, em um programa de Televisão. O filme mostra um tipo de crônica a essa tecnologia, e seu fator dinâmico e pouco sensível, quase desumano. Traz Marcelo Matroianni, um dos maiores galãs da década já por volta dos seus 70 anos dançando com sua Ginger, Giulleta Massina. Muito bom e tocante.

quarta-feira, 10 de março de 2010

"Finais felizes"

Assisti, há pouco, à dois filmes que já saíram do roteiro das salas de cinema e que quero citar como exemplos de finais "felizes".Por felizes não me refiro ao "happy end", ao "felizes para sempre", mas sim a essa alternativa difícil de ser alcançada nas projeções, o final que foge do açucarado happy end, porém sem nos deixar a ponto de cortar os próprios pulsos.

Esse felizes para sempre, especificamente a promessa de felicidade eterna para os protagonistas da história, sem dar muita atenção aos coadjuvantes, tornou-se algo uncool, se é q podemos pensar dessa forma. Além de clichê (pq sempre rola aquele comentário cético no final "lógico que eles se apaixonam..."), ficou meio brega, vazio. Lógico que é uma delicia ver o mocinho e a mocinha se dando bem, rola aquela esperança pra nossa própria vida, o alimento do bem que o cinema nos fornece. E o filme tbm não se trata somente do final, ele tem todos os mais ou menos 120 minutos para nos entreter até que o inevitável aconteça. E então, depois de falar tanta novidade, penso que o filme é um produto como outro qualquer, vamos ao "supermercado" em busca de risadas, de good feelings, muitas vezes também de muito choro, tristeza, terror e adrenalina e assim vai.

Eu pessoalmente vivo contradições, meu intelecto sempre grita a favor do final realista, muitas vezes triste e penoso como é a realidade, mas meu coraçãozinho insiste em querer a felicidade pra todos, ou pelo menos uma faísca de esperança para aquele protagonista que aprendemos a amar no decorrer do filme. Esse cara se torna nosso filho/marido/amante/herói/pai/irmão, não queremos que ele se dê muito mal.

- Olha ele aí, Clint lindão.



Para o bem da minha sanidade, deparo-me com filmes como Gran Torino (2009) do melhor diretor do mundo, Clint Eastwood, e 500 Dias com Ela (500 of Sommer - 2009) de Marc Webb.
O primeiro merece um momento de silêncio e de respiração profunda para conter a minha paixão e admiração fulminantes pela figura de Clint Eastwood. O cara está beirando os oitenta anos, e ainda mantém a pose soberba e elegante de galã (em seus 1,90m), como poucos hj em dia. Dirigido, produzido e estrelado pelo mesmo, Gran Torino é uma grata supresa, principalmente por fazer juz a maior qualidade de seu diretor: a não pretensão. Ele usa enquadramentos simples e nada de cortes e closes interativos. Com ele a história flui poderosa de mãos dadas com seus personagens. E Gran Torino mostra o auge da experiência desse artista completo que é Clint Eastwood, generoso no seu bate bola com os “Chinas” com os quais interpreta. O personagem é um sujeito turrão que vai nos conquistando desde o primeiro momento, por não partilhar dessa hipocrisia e jogo de aparências social. E o final, fica por conta dos que assistirem, grandioso e eloquente como os verdadeiros "finais felizes."

O segundo, uma comédia romântica não convencional, em uma linguagem colorida (lembrando um pouco O Fabuloso Destino de Amélie Poulain - 2001), já compromete-se desde o principio em não contar uma história de amor. Ela Ilustra o encontro de um casal, Tom ( Joseph Gordon-Levitt), o rapaz que sonha com um amor pra toda a vida e Summer (Zooey Deschanel), a mesma do título (cujo nome rende bons trocadilhos, fica a dica pra quem quiser assistir), a moça moderninha, avessa à relacionamentos sérios e muito menos às suas denominações taxativas e pesadas. Realmente não se trata de uma história de amor, e esse outro "feliz" final nos conta sobre o que trata realmente a história.

Já que citei, vai ai a dica básica para cinéfilos e apreciadores de cult atemporais de plantão. O francês: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), direção de Jean-Pierre Jeunet, estrelado pela eterna Amelie Poulin, Audrey Tautou.

E o maior filme de Clint Eastwood, um dos top 10 da minha lista de melhores: Sobre meninos e lobos ((Mystic River - 2003), sobre dor, vingança e cicatrizes que não se curam. Atuações milagrosas do meu amor, Sean Penn e roubando a cena: Tim Robbins.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O humano supera a máquina - Oscar 2010

Lá se foi mais um Oscar...tive que esperar o paredão do BBB10 terminar de se formar, contentar-me com alguns pedaços que eu ia perdendo da cerimônia mais importante do cinema, enquanto minhas torcidas levavam suas estatuetas: o austríaco Chris Waltz (ator coadjuvante para Bastardos Inglórios) e a apresentadora americana Mo'nique (atriz coadjuvante por Preciosa). Mantive-me firme até a fala final de Tom Hanks (anuncio sem rodeios de melhor filme), pescando com os olhos pesados até as 2h da manhã, mas hj sinto-me um tanto quanto frustrada por ainda não ter assistido ao maior vencedor da noite: Guerra ao Terror.

Minha desculpa não me redime, mas pelo menos me torna compreensível..o gênero guerra (por mais inovador que seja o filme em questão), não consegue realmente me atrair para o cinema, ainda mais quando a demanda por bons filmes queridos à minha pessoa, era tão grande e vasta, tanto em matéria de diretores quanto de atores. Vou ficar devendo meu comentário sobre o número 1 da noite, mesmo. Foi mal! Mas posso adiantar que a minha contra torcida para Avatar nas categorias de melhor diretor, e filme foram vitoriosas. Realmente Avatar foi o filme do ano, por tudo que ele trouxe para o Cinema como um todo, mas não podemos, na minha opinião, deixar de priorizar roteiro e atuações aos nossos olhos que tecnologia e efeitos, o que não deixa de ser um paralelo com o nosso mundo real, um mundo orgânico, sem photo shop ou edição de qualquer tipo (dai minha torcida para a Preciosa e o mundo falho e sujo em que vivemos).

Tivemos, vale ressaltar, nesse dia 07 de março madrugada do dia 08 a vitória, pela primeira vez de uma mulher para a estatueta de direção. Coincidentemente no dia da Mulher! (já passava da meia noite no Brasil). Kathryn Bigelow, no auge dos 59 anos de idade, enxutérrima. Essa mulher é no mínimo o que eu quero ser quando crescer.

Mesmo sem assistir Guerra ao Terror, bato o meu pezinho e duvido que o roteiro em questão supere Bastardos Inglórios. Quentin Tarantino não é exatamente a pessoa mais amada pela Academia, não é de se admirar que não tenha levado essa, mas senti tristeza por um filme tão maravilhoso quanto essa releitura maluca da 2a Guerra, tenha passado praticamente em branco nas premiações, com exceção da vitória do inesquecível Coronel Hans Landa (Chris Waltz), o que era gritante e impossível de se ignorar.

Dos indicados, posso indicar (só no trocadilho): Amor sem escalas (Jason Reitman), Preciosa (Lee Jones), Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino), A fita branca (Michael Haneke) e Avatar (por que não? James Cameron).

Seguindo o genero guerra, fica a dica: "Nascido para matar" (Full Metal Jacket) Stanley Kubrick - 1987. Na guerra do Vietnã,no meio de um treinamento sádico, uns se descobrem, outros enlouquecem. Clássico com assinatura de Kubrick.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Jason Reitman e os anti-heróis contemporâneos

Continuando o assunto corrida para o Oscar, abordo hoje mais um dos grandes indicados às categorias mais importantes: "Amor sem escalas" (mais uma vez enfatizo a minha digamos, implicância com a tradução dos títulos gringos para o português, do original: "Up in the air" - os "tradutores" responsáveis têm essa mania de enfiar a palavra amor em qualquer título que apareça!).

Nesse filme encontramos a fórmula: George Clooney, interpretando no seu jeito simples de ser, um tipo Clooney adaptado, cativante e preciso. Temos o canadense Jason Reitman (Juno e Obrigado por fumar), na direção, sempre cool, antenado e direto na ferida dos preceitos básicos de conduta social. A jovem Anna Kendrick (a amiguinha da Bela em Crepúsculo) em seu papel revelação da vida e uma Vera Farmiga (Os Infiltrados) que rouba a cena do filme, ambas indicadas ao Oscar para atrizes coadjuvantes.

A história é uma adaptação (bem como Preciosa), do próprio Reitman e Sheldon Turner do livro de Walter Kim. Nela adentramos no mundo de Ryan Bingham (Clooney), um profissional que sobrevoa (vide o nome original do filme), o país todo como consultor para despedir pessoas. Ele é em suma um anti-herói comum aos personagens de Reitman, como Nick Neylor de Obrigado por fumar e Juno. Os imperfeitos realmente cativantes do Cinema atual. Ele não se apega às pessoas, é totalmente afastado da família, e prefere relacionamentos superficiais. Tudo começa a mudar quando seu mundo é posto à prova por meio da jovem personagem de Anna Kendrick, oferecendo um novo sistema de videoconferência na demissão das pessoas e contenção de custos. Ele então propõe um desafio a ela, para que o acompanhe em suas viagens e participe do dia a dia dessas pessoas desesperadas.Gosto especialmente, em uma cena de pré embarque, quando ele fala pra ela, ao acusá-lo de racista, que "estereotipar é mais rápido". É claro que no meio do caminho, não exatamente nessa ordem, ele conhece Alex, sexy, independente, como que ele próprio de saias. E é também o momento em que, além de ele questionar seus valores pré-moldados em relação ao trabalho, ele também começa a questionar suas escolhas amorosas, pesando as reais qualidades da vida sem companhia. E ai temos o mote do filme. "A vida é melhor quando se está acompanhado."
Um bom filme em todo o seu percurso, uma grata experiência e o que é melhor, uma divertida experiência. Faltando um certo quê de Preciosa. Não falo mais para não estragar.

Para ver Jason Reitman em sua melhor forma, em seu filme de estréia: "Obrigado por fumar" 2006 com Aaron Eckhart genial na pele de Nick Naylor, nada mais nada menos, que o porta voz da Industria de Tabaco Americana. Em seu ponto alto no fim, aconselha o filho que para fazer certos tipos de trabalho, é preciso ter uma "moral flexível".

quinta-feira, 4 de março de 2010

Corrida para o Oscar!

A data para a tão esperada entrega dos prêmio mais conceituado (talvez por ser o mais eclético ou simplesmente por ser da terra do tio Sam), para os melhores do mercado cinematográfico do ano, está chegando. Nesse domingo dia 7 de março de 2010, logo após do BBB10 (a cerimônia começa oficialmente aqui, no nosso horário de Brasilia às 22h, o BBB termina na Globo por volta das 00h).
Existem várias questões que giram em torno de todo esse evento que chega à sua octogésima segunda edição. Uns dizem ser injusto por privilegiar blockbusters superficiais, outros idolatram cada vencedor e menosprezam os jamais citados para a estatueta, outros consideram-se injustiçados, e outros, como Woody Allen, ao invés de irem receber uma das estatuetas mais importantes, a de melhor diretor ("Annie Hall"1977 - me recuso a dizer "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" um dos títulos mais non sense desde "A primeira noite de um homem" para o original "The Graduate"), preferem ir tocar clarinete em um bar de New York).
O essencial é que o nosso amigo Oscar, companheiro de todos os anos, vivo e inteiro apesar da queda de audiência dos últimos tempos, é ainda uma senhora referência ao que, em uma determinada época, se destaca na Sétima Arte. E eu aqui nos meus sapatos, como diriam os americanos, sinto-me especialmente ansiosa para essa edição. Talvez por ter dado o meu primeiro passo em direção  à carreira cinematográfica, e também por estar por dentro frequentemente de todas as notícias e fatos referentes aos filmes mais comentados desse ano (o que eu vou tentar aos poucos dividir aqui com vocês). Por enquanto, adianto a minha torcida para a Preciosa de Lee Jones, pelo conjunto da obra como melhor filme, especialmente pela mensagem que é mandada, além de (se fosse minha a escolha), levar o prêmio de melhor atriz Gabourey Sidibe e melhor atriz coadjuvante: Mo'nique. Para melhor diretor e melhor roteiro original torço como a fã fiel que sou para Quentin Tarantino em Bastardos Inglórios. Acho, porém, difícil levar por ser simplesmente um Quentin Tarantino. A estatueta para ator coadjuvante já está ganha para o impecável e já inesquecível "Coronel Hans Landa", Christoph Waltz .


E como eu já citei acima, vão ai duas dicas cativantes e clássicas, no original por favor, respeito: "Annie Hall" 1977 - (Dir. Woody Allen). Estrelando o próprio Allen e a senhorinha da America Diane Keaton (Annie). E dez anos antes...

"The Graduate" 1967 - (Mike Nichols, mesmo de "Closer-perto demais"). Com Dustin Hoffman ainda sem pêlos no peito e a eterna Mrs. Robinson: Anne Bancroft, desvirginando-o na ficção e na realidade cinematográfica. Destaque pra antológica trilha sonora pop de Simon and Garfunkel.