quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Thelma & Louise e nós mulheres



Já assistiu ao filme Thelma & Louise (1991 - mesmo nome original no inglês), com direção de Ridley Scott e roteiro original vencedor do Oscar, de Callie Khouri? Esse é um dos dez filmes, sobre o qual eu falo, e consequentemente grito com quem converso se me responde negativamente à pergunta. Você deve assistir Thelma & Louise! Primeiro por que ele é diferente de qualquer coisa que tenha sido feita antes disso, mesmo tendo todos os elementos, cenários e questões que estamos cansados de ver. O grande diferencial do filme é o roteiro e consequentemente os personagens. Thelma e Louise são duas mulheres cansadas e entediadas com suas vidas e rotinas sem sentido e resolvem viajar sem um rumo muito certo, deixando pra trás todo aquele marasmo, até ai nenhuma novidade. A grande diferença do filme, e o que nos toca, é a sua originalidade, ele foge a todo momento do lugar comum, ele conversa com a nossa realidade, com as nossas escolhas diárias, e ele nos conta tudo isso através de imagens que tornaram-se ícone com o tempo, esse roteiro abre mão do falatório dos diálogos sem fim, para preferir um olhar, uma metáfora, um objeto. Conhecemos essas protagonistas, torcemos por elas e assistimos estarrecidos à sua transformação no percurso da grande aventura que elas resolvem encarar. Acho praticamente impossível alguém não se divertir assistindo a esse filme. Emocionar-se já depende de quão vulnerável vc consegue se deixar estar. E de todas as qualidades, como sempre esse filme esbanja das melhores: a despretensão. Com Geena Davis, Susan Sarandon eternizadas como as heroínas, Hervey Keitel como o policial que foge do clichê insensível, Brad Pitt em ascensão, e o meu querido (e do Tarantino), Michael Madsen. O diretor Ridley Scott (Gladiador, Um bom ano), merece o crédito pela direção de atores, e a ótimas escolhas de cena, especialmente a final, inesquecível!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O vencedor do Oscar 2010

Demorei, enrolei, mas assisti finalmente ao vencedor do Oscar 2010 de Melhor Filme, Guerra ao Terror (2009 - The Hurt Locker), direção de Kathryn Bigelow (também vencedora do Oscar de melhor direção), e roteiro original de Mark Boal (também vencedor do Oscar).Guerra ao Terror é o tipo, ou melhor o gênero de filme do qual costumo fugir, de guerra, com heróis americanos e também, devo confessar, contemporâneo, dai a minha demora para conferir um filme tão comentado. Fiquei bem interessada na cerimônia do Oscar esse ano, muito pela diversidade dos indicados. Para melhor filme, dentre todos, havia um filme ícone na nova linha de 3D, Avatar, do megalomaníaco (no bom sentido), James Cameron (Titanic), Guerra ao Terror, da sua ex-mulher, a coroa enxuta, Kathryn Bigelow, Bastardos Inglórios do meu amado Tarantino, sem chances como sempre de ser realmente premiado pela Academia, e um drama visceral, Preciosa, meu preferido, e na minha opinião, agora final (depois de assistir ao vencedor), real merecedor do prêmio máximo desse ano. No que se refere a Guerra ao Terror, como vencedor do Oscar, digo que vale. Primeiro por ser um filme independente, com baixo orçamento (11 milhões), que acabou derrubando um Avatar de 300 milhões nas premiações. No que se refere ao enredo, temos os bons, realmente bons e bem intencionados, e humanos soldados americanos no Iraque (?), mas também temos uma linha muito interessante de roteiro e personagens, principalmente o protagonista, o desconhecido e bom Jeremy Renner, o próprio Hurt Locker, que seria o especialista em desarmar bombas. Um bom filme precisa de uma boa produção e uma história original. Guerra ao Terror entrega a encomenda, e despretensioso mantém o ritmo com um final realmente interessante, mereceu o prêmio, principalmente pela fotografia dos momentos de espera, de medo e condições sub humanas nos campos da batalha de hoje.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

I like trash

É mais um momento pessoal, uma característica talvez que distoe da nossa realidade correta, racional, cheia de sentido, mas ultimamente tenho curtido muito o trash. Trash pro cinema seria aquela quantidade exorbitante de sangue de katshup saindo pelas tripas das pessoas, dialogos non sense, até mesmo má atuações e efeitos toscos. Isso é um tipo de filme que surgiu assim, digamos, da falta de recursos e com o tempo se tornaram cult cinematográficos. Tarantino usa referências em Kill Bill, agora nos Bastardos Inglórios também, encontramos trash na série de super sucesso (e que eu indico fervorosamente que assistam), True Blood, como no nome, tem muito muito sangue, tripas, orgão à vista e sexo com alguém que sai literalmente da terra. Juntando todos esses fatores, mais um boa dose de sarcasmo, temos Garota Infernal (2009 - Jennifer's body) direção Karyn Kusama, cujo corpo do título original, é da já tida como nova Angelina Jolie, Megan Fox, a gostosona. Resolvi pegar esse filme e dar algum crédito quando soube das pessoas envolvidas, Jason Reitman (diretor de Obrigado por fumar, Juno, Amor sem escalas), como produtor executivo e roteiro de Diablo Cody, a ex stripper e roteirista do também ótimo Juno."O inferno é uma garota adolescente", essa é a frase que nos coloca dentro desse enredo trash, como já dito, na voz da nova queridinha e rosto de quase todas as estréias norte-americanas Amanda Seyfrid (Mama Mia, Querido John), melhor amiga da personagem Jennifer (Fox) no filme. Resumindo esse filme conta a história de uma garota, cheerleader (dããã), que tem seu corpo tomado por um demônio em uma seita orquestrada por um grupo de rock, e depois precisa se alimentar de seres humanos para sobreviver. Ela realmente devora os rapazes. Depois de dois alertas ferrenhos dos meus amigos da locadora, falando quão horrível o filme era, assisti ao Jennifer's Body e amei!Sacadas ótimas de humor, trash que chega ao ponto de um arroto colossal de Megan Fox vomitando uma gosma preta, e um ótimo desfecho. Fica a dica, é sempre bom saber o que esperar de um filme.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Memento

Tive uma aula de arte cinematográfica, e devo isso ao há pouco citado Christopher Nolan (A Origem – 2010), com seu “Amnésia” (Memento - 2001), com roteiro e direção do mesmo. O Cinema já completa mais de cem anos de história e tem evoluído como poucas artes o fizeram, se for pensar nesse pouco tempo de existência, talvez muito pelo fato de ser uma arte híbrida que surge da junção de muitas outras como teatro, pintura,literatura, fora o seu caráter extra de Mídia. No cinema, bem como na literatura, há a técnica metonímica da parte pelo todo. Nos livros alguns detalhes vão se mostrando aos poucos até que se forme o quebra-cabeça original do enredo, subjetivamente formado por cada um dos leitores. Em Cinema (do tipo original), conta-se a história através de imagens, pequenos gestos propositalmente deixados na tangente para que o nosso olhar superestimado se direcione para esse instante em especial, na certeza de ter captado por talento um lance único para compreensão da história, que na verdade é propositalmente programado pelo diretor ou roteirista do filme. O cinema tem muito dessa característica complementar, um jogo que se joga em equipe. Um gesto, uma risada, uma palavra que marcam uma história como ícone, podem ser espontaneamente alcunhados pelo ator, pelo diretor, ou serem previamente descritos pelo roteirista dentro da cena. Em Amnésia, como em todos os chamados filmes de autor, que são escritos e dirigidos pela mesma pessoa, fica difícil não ter certeza sobre quem se deve atribuir esses pequenos detalhes importantes. Já disse antes, Nolan tem uma mão extremamente despretensiosa em suas ilustrações, movimentos leves nas atuações, que por isso tornam-se ainda mais críveis, nesse que é um filme experimental, que vai do fim pro começo, meio e começo de novo, seguindo esse herói sem memória recente, Leonard, muito bem feito pelo Guy Pearce, pede que nós como voyeurs que somos, tenhamos paciência para espreitar o verdadeiro fio que puxa essa história. Ai que entra o meu comentário extenso sobre Cinema e o mostrar sem ficar descrevendo tudo. Sou muito simpática ao que se chama Voice Over (é a narração que acontece simultaneamente à ação que acontece no filme, pode ser do protagonista, ou e uma pessoa de fora), de Charlie Kaufman (Quero ser John Malkovitch, Adaptação), mas é sempre bom rever o cinema que se conta através das velhas fotos que se movimentam, ao modo que começou.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

É do Brasil!!

Nesse feriado chuvoso (Aleluia!), consegui colocar em dia minha dívida com os filmes, e assistir a bons novos nacionais. Comecei com um dvd de Divã (2009), com direção de José Alvarenga Jr. e roteiro adaptado de Marcelo Saback, baseado em livro de Martha Medeiros, estrelado pela Lilia Cabral, a coroa que pega Gianechini (cada vez mais dando aula de galã), e Cauã Reymond. E terminou com o peculiar e curtinho (apenas 80'), "Reflexões de um liquidificador" (2010), direção de André Klotzel, roteiro de José Antonio de Souza, estrelando Ana Lucia Torre e Fabíula Nascimento (Estômago), com Selton Mello com nada mais nada menos que o Liquidificador.



Sou ainda jovem, mas se alguém um dia me perguntasse o segredo para o sucesso eu diria Autenticidade, pelo menos é o que busco com algumas boas doses de despretensão. Os lugares comuns cansam e os clichês enjoam, isso todo mundo já sabe. Quando se quer propor algo novo, em se tratando de Cinema, precisa-se de um bom roteiro. Divã e Reflexões de um Liquidificador o têm. O primeiro com atrizes e atores globais e "manecais" no elenco, já nos suscita aquele famoso nariz torto, esperando por algo que já imaginamos que vai vir. Logo nas primeiras cenas, na voz de Lilia Cabral nos apercebemos de nosso equívoco, quando ela diz ao seu terapeuta, no "Divã", "Se estou aqui, com certeza não é por falta de felicidade". Temos ai o mote do filme, a contra história da maioria dos dramas a que já assistimos, uma heroína que não sofre de tristeza, por não ter achado o príncipe encantado, ela sofre como todas nós, por ser mulher e sempre sonhar com mais, muito mais. Do filme todo só tiraria algumas cenas escrachadas demais, a la Zorra total...

Em "Reflexões...", filme a que assisti em uma sala do Unibanco Augusta lotada, o que só me alegra ao pensar que ainda prestigimos o nosso bom cinema nacional, e ainda mais, as idéias novas! Depois de um curta, e uma mini apresentação de stand up comedy, assistimos ao filme despretensioso de 1 hora e 20 minutos. A atuação vocal de Selton Mello está impagável nesse filme excêntrico e curioso, exatamente o que se pode esperar a priori, de um filme estrelado por um eletrodoméstico. Um liquidificador que observa a vida humana, a vida paulistana, e toda essa coisa curiosa do cotidiano que já estamos acostumados a olhar.