sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cinema brasileiro que vende

O cinema brasileiro teve seu auge de público - ainda imbatível - lá nos anos 70, na época da Boca de Lixo, conhecida como pornochanchada, que ficava na Rua do Triunfo em São Paulo (atual Crackolândia). Depois das chanchadas, nessa mesma linha de grande público tivemos nos anos 80 os clássicos dos Trapalhões e outros Lua de Cristal e patentes da rainha dos baixinhos. Um tanto deprê pra quem é brasileiro e ama Cinema. Entretanto, há um luz brilhante no fim do túnel, e para uma otimista de carteirinha como eu, uma luz promissora que começou na corrida pro século 21 em uma leva de bons filmes que agradam a crítica e chamam a atenção do mundo. Em 1997 temos um "O que é isso companheiro?" (o melhor filme brasileiro na minha opinão), de Bruno Barreto que é fortemente cotado na época ao Oscar de melhor filme estrangeiro, seguido por Central do Brasil (Walter Salles - 1998), também indicado ao prêmio. Nos contemporâneos Cidade de Deus (Fernando Meirelles - 2002) e Tropa de Elite (José Padilha - 2007), enxergamos a evolução tecnológica e narrativa desse cinema, transformando esses filmes em verdadeiros cults que paradoxalmente caem na boca do povo.Todos mostram uma realidade brasileira característica no sentido histórico ou sociológico (ditadura, pobreza, violência). Ontém eu assisti a uma nova promessa tupiniquim, já com um apelo mais universal do adolescente, que segue de uma leva mercadológica iniciada pelo casal Laís Bodanzky e Luiz Bolognese (Chega de Saudade - 2008), uma dupla de diretora e roteirista respectivamente do filme que estea em cartaz em várias salas de cinema: As melhores coisas do mundo (2010).



Cena maravilhosa de mãe e filho.


Baseado em uma série de livros de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto ("Mano"), o filme foi um orgulho sentido no peito do começo ao fim. O cinema cumpriu seu papel importantíssimo ao retratar uma geração, e eu me vi naquela ilustração dessa fase profunda da puberdade e da formação de caráter que é o ensino médio. Luiz Bolognese dá uma aula de roteiro, com todos os pontos de virada e conflitos bem marcados, e principalmente na linguagem esmiuçada dessa molecada de 15 a 17 anos. No mérito de Laís Bodanzky, encontramos excelentes interpretações do protagonista Mano (Francisco Miguez), sua melhor amiga Carol (Gabriela Rocha), seu irmão Pedro, o futuro super galã Fiuk e uma Denise Fraga à flor da pele como a mãe que sofre calada. E o golpe baixo de ter os direitos da melhor música dos Beatles: Something composta pelo subestimado George Harrison. Como toda boa obra, eu tenho que ser clichê e dizer que faz rir, chorar, ficar apreensivo, e mais um turbilhão de sentimentos obrigatoriamente suscitados por um bom filme. E o melhor de tudo, é um filme que vende.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Eu não estou lá

Ele é todos. Ele é nenhum deles. Bob Dylan encaixa-se muito bem como bode expiatório para essa concepção humana de múltiplas personalidades. Os roteiristas Oren Moverman e Todd Haynes utilizam-se de uma das figuras mais deslumbrantes ainda vivas, principalmente pelo fato de ser uma pessoa autêntica, para a construção desse filme/documentário/clipe. Eu não costumo escutar Bob Dylan. Tenho um cd dele, da fase do "Blowin' in the wind" (The Freewheelin' Bob Dylan - 1966), quando ele tinha apenas 22 anos, e sinceramente, adoro as letras, mas não aguento a voz dele e o ritmo arrastado por mais de duas músicas. Ao que me interessa, sei que ele teve um encontro animado com os Beatles no meio dos anos 60, e que apresentou a bendita erva a eles, causando grande impressão, principalmente em John, não só pessoalmente, como musicalmente falando, o que já é interessante de se pensar.



Toda essa minha comoção no sentido da vida de Bob Dylan partiu desse filme a que assisti ontém, extremamente cansada, segurando para não dormir, não por ser tedioso, muito pelo contrário: Eu não estou lá (I'm not there - 2008) direção e roteiro de Todd Haynes, já é desde o começo um parque de diversões pronto pra mim, tendo o meu saudoso Heath Ledger (que parece nunca parar de lançar novos filmes, mesmo póstumos), Christian Bale, Richard Gere, Charlotte Gainsbourg (a nova querida de Lars von Trier), participação da minha musa Julianne Moore e uma Cate Blanchet, que como todos e o Oscar sabem, rouba a cena.
A trilha sonora, apesar de Dylan não ser minha preferência musical, segue organicamente a ordem cronólogica (se é que é possível uma ordem dentro de tanto "caos" narrativo e núclear), e o filme se torna algo difícil de resumir, nomear, entender, criticar, mas faz sentido. Acredito que tudo isso coerente à figura de Bob Dylan.

Simpatizei de verdade com as idéias dessa pessoa atéia, religiosa, simples, consumista, adorável, grosseira, e incrivelmente talentosa. Um poeta, que não admite ser chamado de poeta.
Um diálogo em especial de Heath Ledger, como um dos Bob, interessa-me muito. Ele é indagado por um amigo, sobre o por que de sua mudança repentina (por causa do sucesso, no modo de se vestir), que ele "não é/era assim", ao que "Bob" responde "você há um minuto atrás tinha a voz em outro timbre" ou algo do tipo...o velho lance do rio que você se banhou nunca será o mesmo no dia seguinte, e toda essa quebra que ele representa, quebra do que está arraigado, quebra daquela versão repetida do que é a vida, a música, os sentimentos. Um talvez admirador tupiniquim bem diria um dia: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante...".

Ver também na linha "biográfica", um filme muito querido: Chaplin ("Chaplin" 1992), Direção de Richard Attenborough (diretor da também biografia "Gandhi"), roteiro de William Boyd, Bryan Forbes e William Goldman, baseado nos livros de David Robinson e Charles Chaplin. Robert Downey Jr como o eterno mendigo "Carlito", dentre outros, a história de um homem adorável e genial, que se mistura com a própria história do Cinema.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Romance Verdadeiro/Romance de Verdade

Amor à queima roupa (True Romance - 1993) é um filme de Tarantino. Nessa época, o agora famoso diretor, ainda treinava a carreira que agora conhecemos, vendendo seus roteiros para conseguir verba para realizar seus próprios filmes. Em uma dessas empreitadas ele vendeu "True Romance" para ser dirigido por Tony Scott e na mesma época "Assassinos por natureza", para ser dirigido por Oliver Stone. Com esse dinheiro ele produziu, o que na minha opinião foi seu melhor filme, the very first: Reservoir Dogs (Cães de aluguel - 1992).

Toda essa introdução a respeito de Quentin Tarantino, que assina o roteiro do filme em questão, é pra enfatizar, a falta que eu sinto (com toda a unilateralidade de uma fã), da direção dele nos filmes que ele escreveu. Amor à queima roupa é um ótimo filme, e todos os ingredientes indispensáveis tarantinescos estão presentes, mas aquela nostalgia do maestro original permanece o tempo todo. Algumas cenas de violência, como é de praxe, passam do limite estético, ultrapassando uma linha violenta que está lá em Pulp Fiction, Kill Bill... mas nunca é invadida. Com Tarantino aprendemos um novo tipo de gênero de ação/entretenimento leve. A fórmula é só dele...mas mesmo assim vale a pena sentir o amor louco de Clarence (Christian Slater) e Alabama (Patricia Arquete), assistir a um Brad Pitt brisando com os bandidos na casa, um Gary Oldman totalmente transfigurado com dreads e olho de vidro como um cafetão branco que se acha negro, e até mesmo uma passagem relâmpago de um Samuel L. Jackson no começo, praticamente um figurante.

Ver também (ou não) Assassinos por natureza (Natural born Killers - 1994) Direção de Oliver Stone, roteiro adaptado de história de Quentin Tarantino. Juliette Lewis e Woody Harrelson são Mickey e Mallory, um casal apaixonado e louco por violência que saem assassinando pessoas pelas estradas americanas, são presos e convidados a participar de um programa de televisão tornando-se celebridades. Acho esse filme vulgar, poluído e superestimado.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando a cobrança recai sobre terceiros

Com a melhor didática possível, o cinema por meio dos filmes “A outra história americana” (American History X - 1998 Direção de Tony Kaye) e “O poderoso chefão III” (The Godfather III - 1990 Direção de Francis Ford Copola), ensinou-me um pouco mais sobre a vida, colocando situações e principalmente escolhas em perspectiva.
Por coincidência em um fim de semana tranqüilo em casa, escolhemos dois filmes, com lições de moral semelhantes: como as nossas escolhas e o modo como escolhemos viver podem afetar os outros.



O primeiro, um dos melhores filmes de todos os tempos, mexe com nossos sentimentos em carne viva. O proganista Derik (Edward Norton) é-nos apresentado literalmente nu, em toda a sua virilidade de macho alpha que pretende ser em detrimento das demais raças tidas como inferiores por ele, um líder skinhead. Acontece como em todo filme digno de fazer parte da minha pequena coleção de preferidos, que Derik tem, como a maioria dos seres humanos, muitas justificativas para ter chegado ao caminho pelo qual escolheu trilhar. De repente, não simpatizamos mas conseguimos entender de alguma forma a causa que ele abraça, como única saída para a sua realidade e de sua família, como resposta aos acontecimentos e ao assassinato do pai. Ele como líder nato, resolve liderar os jovens brancos americanos, contra aquilo que julga ser a soma de todo o mal que os assola, toda sorte de imigrantes e negros. A história gira em torno de um trabalho dado ao irmão mais novo Danny (Edward Furlong), que pretende seguir os passos do irmão "herói", um caminho no mínimo ideologicamente asqueroso. Nesse ínterim encontramos a personagem inspiradora do Prof. Bob Sweeney (Avery Brooks), que resiste em desistir de seu aluno mais brilhante, encontramos uma mãe, uma viúva ainda jovem e bela que tenta sobreviver ao próprio filho e ao que ele se tornou, como ela mesma minimiza: “um garoto sem pai”, e principalmente saboriamos a história de amizade forçada a principio, para depois ser salvadora, entre um skinhead cheio de ódio na cadeia, e um negro condenado a seis anos por ter roubado uma televisão, que acaba por salvar a "alma" do amigo. Derik desiste de sentir raiva, ele muda a perspectiva, ele tem ótimas intenções, mas a moral que fica é que somos responsáveis pelas nossas ações, mas as pessoas ao nosso redor também sofrem as consequências.
Nessa mesma linha temos na última parte da trilogia gloriosa do clã Corleone, toda a trajetória de um líder temido e não amado. Michael Corleone acerta suas contas com a família e com Deus. O arrependimento de uma vida não se mostra suficiente.

Ver também: Lanternas Vermelhas (1991) Direção Zhang Yimou. Sobre uma garota chinesa orfã que decide tornar-se a quarta esposa de um homem rico. A disputa entre as esposas tornar-se mortal, e a jovem ambiciosa, porém inexperiente Songlian também acaba fazendo escolhas questionáveis afetando terceiros.