domingo, 23 de dezembro de 2012

Água com açúcar pode cair muito bem...

Existe um gênero um pouco mal visto pelos experts do meio, e por outro lado, um gênero talvez supervalorizado pelo grande público: a comédia romântica, o tal água com açúcar. Ele entra na mesma lista negra dos livros de auto ajuda, dos reality show, e todas essas mídias tidas como vazias ou superficiais, para dizer o mínimo. Eu torço o nariz. Não para esses meios, mas para as pessoas que os criticam. Eu acredito na comunicação, na arte, como um produto qualquer, e um produto tem o seu nicho, ele responde a uma necessidade, a um anseio, uma vontade. Não tem crise. Também tem o fenômeno antropológico mundial que faz com que o ser humano em momentos de tensão possa simplesmente sentir a necessidade de, veja bem, de se divertir!Por vezes a definição desse "divertir-se", "entreter-se", é "não pensar". Fiz toda essa introdução para falar de um filme que me surpreenderam, exatamente pelo fato de eu comprar um produto para me divertir e não pensar, e surpreendentemente me pegar, pensando, de uma forma leve e eu gosto sempre de usar esse adjetivo, por que eu acho que ele é essencial não só em se tratando de filmes, mas em se tratando da vida: de uma forma despretensiosa. O filme em questão é "Amizade Colorida" (2011 - Friend with Benefits) - direção Will Gluck. Esse filme foi largamente divulgado, com o chamativo dos protagonistas Justin Timberlake e a nova namoradinha sexy dos EUA, Mila Kunis. Eu demorei um ano para assistir a esse filme, pelo fato de eu mesma ser uma dessas pessoas acima, que guardam certo receio do gênero comédia romântica. Eu assisti a esse filme do melhor jeito que uma pessoa pode assistir a qualquer filme, sem expectativas. Eu estava na casa dos meus pais, jogada no sofá a zapear pelos canais fechados, quando me vi envolvida com esses personagens que vão se despindo da primeira impressão de jovens espetaculares e perfeitos, para se mostrarem como duas pessoas traumatizadas, vulneráveis e com dificuldades em se relacionar, entregando-se muitas vezes ao alento da cidade grande e à sensação de calma quando não se chama tanta atenção. O roteiro escrito pelo diretor, é uma sequência de corrida de obstáculos, como todo filme bom deve ser, ele deve ser difícil para o mocinho (a), e eu o acompanhei, e comemorei, todas as vezes que ao invés de seguir por um caminho cansado de sempre, o querido Will virava e pegava um atalho mil vezes mais interessante. Eu reconheci aqueles personagens, e ainda mais importante, eu comprei o relacionamento do casal, eu realmente presenciei ao "falling" de ambos, e aquilo foi crível. Vale a pena ficar de olho em Will Gluck, e que ele traga, como seu sobrenome do alemão, sorte para esse gênero e para os roteiros do cinema atual. Ver também "A mentira" (2010 - Easy A), com direção de Will Gluck, roteiro de Bert V. Royal, um filme que é maior que uma comédia romântica, estrelando Emma Stone, ótima e fofa como sempre.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma adaptação feliz

Jack Kerouac, Allen Ginsberg e claro, Neal Cassady. Esses são os personagens reais do romance ícone da chamada geração beat: "On the road". Sal Paradise alter ego de Jack o autor, é o narrador que mais observa que participa, o seguidor dos loucos, dos inconformados, aquele que foge do tédio das opiniões formadas, do status quo. Mais do que o livro, acredito que o próprio Jack Kerouac, apesar de não se considerar como tal, foi a maior voz dessa geração que não conseguia se encaixar no estilo paz e amor,ou muito menos na turma dos engomadinhos da década da segunda metade do século XX. Difícil não ter empatia com esses tipos perdidos, quase crianças inocentes se não fosse pelo tanto de sexo que faziam entre si. Eles tinham fome pelo esclarecimento e tentavam descobrir entre si e pelas forças da natureza que são os seres humanos, e encontrando à despeito disso, a realidade de um mundo que precisa de dinheiro, de cama, de banho e de comida. Assisti ao filme "Na estrada" (2012), com ótimo roteiro adaptado de José Rivera, com direção do brasileiro Walter Salles, um nome justo em se tratando de estrada, diretor do, na minha opinião, melhor filme brasileiro de todos os tempos "Central do Brasil", e também da história de Che Guevera na transição de sua vida de médico para guerrilheiro em "Diários de motocicleta". Importante contar que eu acabei de ler o manuscrito original traduzido para o português, e eu tenho esse costume de ficar obcecada por histórias, ainda mais as adaptadas para filmes, o que eu considero um trabalho quase, ou às vezes, até mais difícil que produzir um roteiro original. Há poucos casos em que a versão para as telonas se compare ao que a nossa imaginação lê, mas em On the road acredito que todos os fatos e a essência do livro foram retratados com eficiência no filme. Os personagens coadjuvantes fizeram sua parte e marcaram no elenco de apoio, temos Kirsten Dunst, Amy Adams, Viggo Mortensen, até mesmo Steve Buscemi maravilhosos e bem caracterizados, mérito do diretor dos atores, mesmo que em poucas cenas no filme, fora os protagonistas Sam Riley, Kirsten Stwart e o excelente Garrett Hedlund, na pele do persoangem de Neal Cassidy, o anjo caído, o anti- herói sofrido e galã, Dean Moriarty. Fiquei triste e melancólica ao terminar o livro. Aconteceu o mesmo ontem ao terminar depois da projeção. Isso é uma boa adaptação, sem dúvidas.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Abstinência e a crise

Uma das minhas muitas paixões é uma construção californiana meio excêntrica, meio cosplay de elvis presley (se é que eu não estou sendo redundante), meio careca, meio esquisita e com mãos gigantes e assustadoras, uma escola chamada Quentin Tarantino. Conheci esse cara tardiamente na faculdade, eu tinha uns 18 anos, e foi meio que nessa época que eu realmente comecei a entrar em contato com todo o Olimpo do cinema, na minha opinião (o já citado Tarantino, Scorcese, Copolla, Kubrick, mais tardiamente, e isso é outra história, os véio porreta e amados, Eastwood e Allen, não necessariamente nessa ordem). Assisti embasbacada à verborragia, ao non sense extremamente terreno e particular de filmes como Pulp Fiction, Kill Bill, Jackie Brown, Bastardos Inglórios e principalmente Cães de Aluguel. Aquela conversa que não leva o roteiro ou a história a lugar nenhum, aquele bate papo imbecil que nós seres humanos normais levamos e com os quais enriquecemos os nossos dias desde sempre, é esse tipo de conversa que esse nerd, por que não, esse ex funcionário fanático por filmes consegue colocar nas telas há quase três décadas (tudo isso mesmo??). Toda essa introdução pra dizer que eu finalmente assisti ao seu penúltimo filme produzido em 2007 e que por uma cagada foi estrear no Brasil só em 2010, À prova de morte (Death Proof), estrelado por Kurt Russel, mais um ator old school meio que esquecido pela indústria (hello Travolta!), a quem Tarantino resolve prestar uma homenagem, um brinde à memória dos reais"hard asses". A primeira coisa que pensei quando comecei a assistir a esse longa, provavelmente filmado em super 8, todo toscão - meu pai perguntou quão antigo era o filme até se deparar com um Russel envelhecido e fechar suas contas mentais - foi "por que eu demorei tanto tempo pra assistir a um filme inédito do Tarantino, pelo menos pra mim", ou "por que eu simplesmente não abri e assisti novamente a um dos dvds promocionais de Pulp Fiction e Reservoir Dogs que eu tenho na minha cabeceira, só pra lembrar o que é esse cinema?", mas principalmente eu pensei, "esse cara escreve diálogos entre três, quatro, cinco gangsters descolados com a dinâmica e a agilidade de uma captação 5D, mas hey! Ele na verdade, Tarantino é um cara desses, normal...", agora alguém por favor me explique como ele conseguiu tirar conversas, e falas, e sentenças tão geniais de personagens femininos com toda essa veracidade? É o tal do deja vu que ele suscita, como se ele estivesse prestando atenção em todas as nossas conversas íntimas, como ele simplesmente filmasse um reality show. Especialmente aqui, em Death Proof, o que me extasiou foi assistir nesse terror/ação/kind of trash style (he loves it!), chegar à perfeição dessa louca conversa que nós mulheres temos todos os dias?? Não é a toa que o cara lança um filme a cada três anos, é um processo artesanal, inédito, só ele faz, só ele é, não tem precedente e pelo jeito não tem sucessor, e é isso ai. Falar que o cara é bom roteirista, bem...- talvez sim ele não seja o melhor dos atores - mas além disso não tem direção de atores que se compare, não tem jeito mais cool de fazer qualquer starteam trabalhar, de pensar uma trilha, de fotografar (sim, ele fotografa Death Proof), e se alguém não acreditar em mim eu sugiro que assista em uma cacetada só um Pulp Fiction de 1994(rot: Quentin Tarantino/Dir: Quentin Tarantino) da vida, para em seguida assistir a um Amor à queima roupa de 1993(True Romance rot: Quentin Tarantino Dir: Tony Scott - irmão do Ridley), e aí a gente conversa. Só Quentin escreve, só Quentin deve dirigir.