quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O que os olhos não precisam ver

Li uma vez que alguma das opções finais do roteiro do filme O touro indomável ("Ranging Bull" - 1980), de Martin Scorcese, em uma das cenas do final onde o protagonista, inspirado no lutador de boxe real Jake La Motta é preso, haveria uma masturbação como um ritual de lavagem por tudo que ele havia passado. Na hora pensei como seria grotesco e destoante de todo o filme uma cena desse tipo, e felizmente no corte final isso ficou de fora, deixando uma cena dramática memorável dentre as muitas que rendeu um Oscar de melhor ator para Bob de Niro.
É delicado falar sobre limites, o que pode ser considerado puritanismo que não cabe dentro de uma arte tão abrangente, mas são imagens, e imagens já dizia o sábio, valem mais do que palavras. Acho por diversas vezes excessivo e desnecessário o uso de cenas insalubres e grosseiras. Ontem, em uma quarta-feira despretensiosa e com saudades de um cinema justo, juntei-me a duas amigas para assistir "Mamute" (2010), de Gustave de Kervern, Benoît Delépine, estrelado por Gérard Depardieu, um querido ator francês que habitou nossos dias como Balzac, Asterix, e outros personagens queridos e marcantes. Pensei em como ele estava ativo nesse último ano, com duas estréias grandes: "Potiche - Esposa troféu", ao lado da diva Catherine Deneuve (já assisti e dou nota 7, uma comédia honesta), e "Minhas tardes com Margueritte" (esse muito elogiado), e o "presente" de ontem.
Os franceses têm aquela coisa do choque, como que um estudo da natureza humana sem muito photoshop, eu pessoalmente gosto e continuo persistindo nos filmes franceses, mas posso dizer que em toda a minha experiência com eles, invariavelmente cai em armadilhas como a de ontem, ou com diálogos infinitos e non sense, ou com cenas fortíssimas que ficaram marcadas no meu imaginário pra sempre, dificilmanente, com exceção de "Amelie Poulin", eu me deparei com um filme que fez o meu tipo, eu que gosto de uma luz favorável, de sensibilidade, do olhar, do não-ato. Por algum motivo eu continuo insistindo neles até então, agora (SPOILER), depois de ver dois senhores deitados com as respectivas barrigas em primeiro plano se masturbando, eu já não sei mais.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Allen x Bergman



E lá estava eu. Jogada no sofá tentando me preparar para a minha expedição especial no box ganhado de aniversário com os primeiros filmes escritos, dirigidos, e muitos dos quais estrelados por Woody Allen. De acordo com a minha recordação, à metade daqueles vinte e poucos dvds eu já havia visto. "Melinda & Melinda", o mais recente deles, data já de 2005, e impressionante pensar que muitos não tiveram a chance de entrar para a coleção, como o famoso pelas beldades "Vicky, Cristina, Barcelona", o último "Meia Noite em Paris", e o ainda na minha opinião, surpreendentemente maravilhoso, muito pela questão que me faz refletir, Match Point (isso é assunto pra outro post).
De todos os disponíveis para a minha primeira sessão, logo na capa eu vi a ex-esposa e uma de suas maiores musas, Mia Farrow. Ela estava de perfil, usava óculos e transparecia uma tristeza imensa. Eu logo pensei, essa é a minha escolha, por que se tem lugar onde se pode encontrar Woddy Allen ainda mais genial, é nos dramas.
"Setembro" (1987), na verdade, era mais uma das homenagens ao seu grande ídolo, o sueco Ingmar Bergman em sua "Sonata de Outono" (1978).
Ambas as histórias giram em torno de um grande rancor que filha subjagada sente pela mãe excêntrica e egoísta (em Bergman temos a "idosa" Ingrid Bergman, musa eterna de Casablanca). Duas mulheres com más recordações, nunca demonizadas ou santificadas,que tentam resolver sua tristeza da forma como conseguem a seu modo. Mais engraçado foi para mim, assistir à "versão" feita por um dos meus diretores preferidos, a partir da história de um autor tão profundo, que as vezes fica quase pesado demais, como Bergman.