quinta-feira, 29 de abril de 2010

Eu não estou lá

Ele é todos. Ele é nenhum deles. Bob Dylan encaixa-se muito bem como bode expiatório para essa concepção humana de múltiplas personalidades. Os roteiristas Oren Moverman e Todd Haynes utilizam-se de uma das figuras mais deslumbrantes ainda vivas, principalmente pelo fato de ser uma pessoa autêntica, para a construção desse filme/documentário/clipe. Eu não costumo escutar Bob Dylan. Tenho um cd dele, da fase do "Blowin' in the wind" (The Freewheelin' Bob Dylan - 1966), quando ele tinha apenas 22 anos, e sinceramente, adoro as letras, mas não aguento a voz dele e o ritmo arrastado por mais de duas músicas. Ao que me interessa, sei que ele teve um encontro animado com os Beatles no meio dos anos 60, e que apresentou a bendita erva a eles, causando grande impressão, principalmente em John, não só pessoalmente, como musicalmente falando, o que já é interessante de se pensar.



Toda essa minha comoção no sentido da vida de Bob Dylan partiu desse filme a que assisti ontém, extremamente cansada, segurando para não dormir, não por ser tedioso, muito pelo contrário: Eu não estou lá (I'm not there - 2008) direção e roteiro de Todd Haynes, já é desde o começo um parque de diversões pronto pra mim, tendo o meu saudoso Heath Ledger (que parece nunca parar de lançar novos filmes, mesmo póstumos), Christian Bale, Richard Gere, Charlotte Gainsbourg (a nova querida de Lars von Trier), participação da minha musa Julianne Moore e uma Cate Blanchet, que como todos e o Oscar sabem, rouba a cena.
A trilha sonora, apesar de Dylan não ser minha preferência musical, segue organicamente a ordem cronólogica (se é que é possível uma ordem dentro de tanto "caos" narrativo e núclear), e o filme se torna algo difícil de resumir, nomear, entender, criticar, mas faz sentido. Acredito que tudo isso coerente à figura de Bob Dylan.

Simpatizei de verdade com as idéias dessa pessoa atéia, religiosa, simples, consumista, adorável, grosseira, e incrivelmente talentosa. Um poeta, que não admite ser chamado de poeta.
Um diálogo em especial de Heath Ledger, como um dos Bob, interessa-me muito. Ele é indagado por um amigo, sobre o por que de sua mudança repentina (por causa do sucesso, no modo de se vestir), que ele "não é/era assim", ao que "Bob" responde "você há um minuto atrás tinha a voz em outro timbre" ou algo do tipo...o velho lance do rio que você se banhou nunca será o mesmo no dia seguinte, e toda essa quebra que ele representa, quebra do que está arraigado, quebra daquela versão repetida do que é a vida, a música, os sentimentos. Um talvez admirador tupiniquim bem diria um dia: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante...".

Ver também na linha "biográfica", um filme muito querido: Chaplin ("Chaplin" 1992), Direção de Richard Attenborough (diretor da também biografia "Gandhi"), roteiro de William Boyd, Bryan Forbes e William Goldman, baseado nos livros de David Robinson e Charles Chaplin. Robert Downey Jr como o eterno mendigo "Carlito", dentre outros, a história de um homem adorável e genial, que se mistura com a própria história do Cinema.

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