terça-feira, 20 de julho de 2010

Clichê?

Woody Allen consegue criar a ilustração perfeita de um delicioso auto-clichê, a alegoria dele mesmo, e de tudo que ele já foi durante todos esses anos de carreira. Os sábios pregam o aprender "a rir de si mesmo", com Woody Allen isso toma proporções faraônicas, para a nossa felicidade.
Um homem hipocondríaco, genial, mal humorado, obcecado pela idéia de morte e com um milhão de teorias: eis o típico herói de Woody Allen, muitas vezes interpretado pelo próprio, ele se confunde com o seu alter-ego, ou quase não se separa dele. Com ele, a ironia seguida de sarcasmo, que segue ainda com humor negro, se auto-define constantemente através da repetição. Em "Tudo pode dar certo" (Whatever works - 2009), ele volta depois de seis anos para New York, e nesse filme tardiamente lançado aqui no Brasil, eu vejo um dos diretores/roteiristas/atores mais genial dos nossos tempos gritando na nossa cara, nova e repetidamente toda a sua idéia de Deus e religião, do amor, do sexo, da sociedade e tudo o mais que há (se é que existe muito mais que isso), e depois de repetir tudo isso para nós, como diria o seu interprete nesse caso, o rabugento Boris Yellnikoff por Larry David, "larvas, lagartos imbecis e cabeças oca", ele deixa a lição: é tudo muito simples, tudo se arruma, por que enquanto procuramos a felicidade perfeita, com todas as nossas fórmulas pré determinadas e moldadas sabe-se lá por que e quando, o acaso se encarrega de ajustar tudo e na maioria das vezes, da forma mais irônica possível. Ironia dentro de ironia, Boris ensina sua pupila e esposa Melodie St. Ann Celestine por Evan Rachel Wood a evitar clichês, mas se encanta após ouvir mais um deles e perceber que um clichê muitas vezes é exatamente aquilo que se precisa ouvir.


Ver também: Hannah e Suas Irmãs ("Hannah and her sisters"-1986), Mia Ferrow é Hannah, uma mulher perfeita, em torno da qual todos giram, em uma história também novaiorquina sobre o sucesso e como ele incomoda.

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