quinta-feira, 20 de maio de 2010

A redescoberta de Almodóvar

Ontém fiz uma sessão particular, (finalmente) de Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos - 2009). Tento assistir esse filme desde seu lançamento em meados de 2009 em um festival na Alemanha. Voltei para o Brasil, e tentei assisto-lo na Mostra de São Paulo, acabei enrolando e só fui assistir ontém a noite a esse novo conceito de Pedro Almodóvar. Ao assistir a um filme, ainda mais de um diretor querido como o é o Pedrão, sinto-me conquistada antes dos créditos iniciais. Preciso assumir que nesse caso fiquei perplexa. Procurei traços característicos, resquícios de Almodóvar por todos os lados...não encontrei muita coisa, além da atriz Blanca Portillo no papel de Judit e a musa Penélope Cruz como Magdalena, presentes também as cores vibrantes e figurino impecável, impressionante como um homossexual assumido pode valorizar tanto as formas femininas. Os ingredientes estavam lá, a paixão, o sexo, as drogas (dessa vez as sintéticas), Madri, o vermelho, o ciúme doentio, em um drama almodovariano, pura e simplesmente. onde não se vê as tiradas sarcásticas, a comédia normalmente presente. Foi nesse momento que pensei, se realmente apreciava o filme, ou se o nosso mestre teria perdido a mão. A conclusão foi o contrário. Percebi que depois de muita experiência, de muita estrada, um diretor/autor do porte de Pedro Almodóvar, pode se dar ao luxo de trilhar os caminhos que bem entender sem se prender ao seu próprio estigma. Dentro da excentricidade maravilhosa desse cara, ele consegue ainda se auto homenagear, em um filme metalinguístico, com um filme dentro de outro filme, um mini "Mulheres a beira de um ataque de nervos", além das participações de atrizes que se tornaram sinônimo de Almodóvar: Chus Lepreave e Rossy de Palma . A estética é maravilhosa, uma cena na praia nos lembra a cena final de "La dolce vita" do mestre do mestre, Federico Fellini. Uma homenagem ao cinema, mas eu ainda escolho as antigas risadas...

Ver também, em mais um dos poucos dramas de Almodóvar, Má Educação (La mala educación - 2004), como sempre dirigido e escrito por ele, não necessariamente nessa ordem, considerado uma auto-biografia, com Gael García Bernal e um dura crítica, novamente, à Igreja, principalmente aos padres.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dica da semana: "Na mira do chefe"



A dica é o filme Na mira do chefe ("In Bruges" - 2008), direção e roteiro de Martin Mcdonagh. Colin Farrel (Ray) estrela essa comédia de humor bem inglês, sobre um funcionário, na verdade um assassino, Ray e seu parceiro Ken interpretado pelo ótimo Brendan Gleeson, que "graças" ao chefe (Ralph Fiennes), são mandados para Bruxelas (do título original Bruges), sob o pretexto de descansarem depois de muito trabalho. Na verdade, eles estão na cidade para que o personagem de Ray, um figura extremamente mal humorada, mas com uma pitada de doçura, possa aproveitar seus últimos momentos de vida, já que Ken, seu parceiro, recebe a missão do chefe para matá-lo, por causa de um erro que Ray havia cometido anteriormente. O filme tem ótimas sacadas, ótimas interpretações, e mais uma vez, é despretensioso. Comecei a assistir com pouco caso, mas acabei ganhando bons momentos de entretenimento do bom. Missão cumprida do Cinema.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Puro sentimento

Vale a pena relembrar quão pequeno somos, e como precisamos de pouco para sermos felizes. Volto-me para a década de 40, em meio à segunda grande guerra, longe dos canhões, perto das reais mazelas e bombas sociais, onde se passa a história de Vittorio de Sica, diretor de Ladrões de Bicicleta (1948 - Ladri di Biciclette). Um filme dos bons de guerrilha, com quase nada de orçamento, uma direção maestral de atores amadores, e uma história que toca na sua simplicidade, e no alvo direto que se aloja na nossa moral e auto estima humana, na reflexão de até onde podemos ir na necessidade. Olhares, detalhes, isso que faz um cinema de qualidade, coisas que infelizmente passam despercebidas, ou se supervalorizam e plastificam-se no nosso atual cinemão tecnológico.

Ver também: Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso - 1988), direção de Giuseppe Tornatore, passa-se após a Segunda Guerra, nos anos que antecederam a chegada da televisão, quando o cinema hipnotizava a maioria das pessoas. Sobre a amizade de um garoto e um senhor projecionista, que surge do e no cinema. Maravilhoso!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Uma realização inspiradora

Eu tinha que assistir a um filme pela quarta vez na vida. Isso acontece com freqüência, já comentei como o filme é também um produto como outro qualquer, muitas vezes temos certeza do que precisamos para aquele exato momento como resposta a uma necessidade real, foi esse o caso nesse sábado chuvoso. Estava ultimamente sentindo um vazio de esperança, um fogo que faltava dentro de mim, um perigo para uma pessoa apaixonada: esfriar. O cinema entra como o meu placebo pessoal, na embalagem do filme O diário de uma paixão (The Notebook - 2004), dirigido por Nick Cassavetes e o que eu considero a melhor história de amor contada nos últimos tempos, até mesmo maior que Casablanca, e o Vento levou ou Doutor Jivago, paradigmas clássicos românticos. Muitos logo o chamariam de mais um filme água com açúcar, enfim...já eu penso isso por uma qualidade nem sempre lembrada: a despretensão. O personagem principal e narrador, a relação, tudo é despretensioso (menos as locações fantásticas da Carolina do Sul nos EUA). O filme é baseado no besteseller americano homônimo do autor Nicholas Sparks, com roteiro adaptado de Jeremy Leven. Ele conta a história de um homem, cuja maior realização na vida foi viver um grande amor, em uma adaptação, produção, direção, atuação, como triunfo de um processo cinematográfico que colore essa história em frente aos nossos olhos, só precisamos aproveitar a jornada, sentados no escuro de uma sala, onde o extraordinário é possível. Uma vez um amigo me respondeu o seguinte quanto ao seu futuro profissional: “eu quero encontrar um grande amor, o resto, a parte profissional, eu corro atrás, por que só depende de mim.” Algo do tipo, foi há uns seis anos, e eu nunca me esqueci. Sábias palavras.

Pra quem se interessa pelo gênero, vamos consumir amor de vez em quando, estréia nos cinemas: Querido John (Dear John - 2010), direção de Lasse Hallström, com roteiro de Jamie Linden, baseado em livro do mesmo de Nicholas Sparks.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Almanaque da Paixão

Segundo o Dicionário de Cinema, encontrado no site FILME B (http://www.filmeb.com.br/portal/html/portal.php):
SEQÜÊNCIA - (1) Uma série de tomadas (cenas) ligadas por continuidade.
Normalmente falo de filmes inteiros, nesse post em especial, gostaria de enfatizar uma das sequências mais sexy dos últimos tempos, que se resume mais ou menos nisso:
Abrimos com uma Jennifer Lopez sentada solitária em uma mesa de um bar sofisticado, ao lado de uma janela, ela olha pra fora fora, onde neva. A garçonete vem e ela pede um Bourbon. Em segundo plano vemos três homens bem vestidos, aparentemente em final de expediente observando-a. Eles conversam, riem, e comentam sobre ela. A garçonete vem com a bebida e diz que os senhores gostariam de pagá-la pra Karen, a personagem de Jennifer, ela educadamente diz que prefere pagar ela mesma. O primeiro dos homens se aproxima dela, mas não tem chance. Ele cruza com um segundo mais atrevido que sem permissão senta-se à mesa, fala sem parar, e no final recebe um “Who gives a sheat”. Ele vai embora humilhado. Close somente nela, tomando calmamente e dispersa o seu Bourbon, abre-se o plano de leve e vemos uma mão conhecida, brincando caracteristicamente com um isqueiro de prata. Ela ouve, ela olha pra cima. Jack Foley (George Clooney) se senta. A mudança é clara, a atração entre aquelas duas pessoas é palpável, o plano se fecha no mundo que são eles. Nos cortes seguintes, assistimos a um jogo de sedução e afinidade que vai de uma conversa informal e até um striptease duplo. Seguramos nosso fôlego e hormônios, eis a descrição do amor ideal.
O fillme é Irresístivel Paixão (Out of Sight - 1998), direção de Steven Soderberg, um cara cool. Logo mais, alguns embates dos cool directors. Uma conversa entre “Tarantino (Kill Bill) x Jason Reitman (Juno) x Soderberg (11 homens e um segredp) x Cameron Crowe (Quase Famosos)”. Aguardem.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Filmes pra idiota ver. Prazer, Idiota.

Desde meados dos anos 70, quando surgiu o sexteto inglês (esse sim fantástico), do grupo humorístico Monty Phyton, nós recebemos um grande presente: rir sem razão nenhuma de como somos ridículos, para tal feito, exige-se uma inteligência das mais extraordinárias, a que é voltada para o humor, ou seja, a caricatura da vida real. Dentro de situações non sense, encontramos a coesão da vida ocidental que aprendemos desde o nascimento, tudo de repente pesa menos, temos como que a permissão de rir loucamente de um cara irritando voluntariamente outro cara, ou de uma entrevista de emprego absurda (um pouco como todas as entrevistas...).
Dessa safra, temos um ótimo exemplar de humor no atual "Se beber, não case!" ( "Hangover" - ressaca em inglês - 2009), direção de Todd Phillips, roteiro maluco de Jon Lucas e Scott Moore. Como pessoa estudada é preciso bastante personalidade para assistir filmes desse tipo, com esse humor escrachado e basicamente tido como idiota. É preciso ainda mais desapego, ao sentar-se em frente a todos em uma sala de projeção, e literalmente chorar de rir com as aventuras desses quatro amigos, vale citar o elenco que arrasa, Bradley Cooper (Phil Wenneck), Ed Helms (Stu Price), Justin Bartha (Doug Billings), e principalmente o gordo genial Zach Galifianakis (Alan Garner), que vão para Las Vegas por uma noite para fazer uma despedida de solteiro de um deles, e acordam no dia seguinte à grande (e subestimada) noite, com aquela ressaca, e o pior, a maior amnésia já vista! O cenário é desolador, um bebê sozinho no armário, um tigre no banheiro, aparição de Mike Tyson, referências a cenas de Rayman, muita liberdade criativa, e quase zero de puritanismo americano, o que é o melhor! Muitos torcem o nariz, mas a maioria recomenda essa grande surpresa de 2009, e já um clássico do cinema.

Ver também o maior dos clássicos: Debi & Loid: Dois idiotas em apuros (Dumb and Dumber- 1994), direção dos irmãos Peter Farrelly e Bobby Farrelly, mesma dupla de "O amor é cego", com Jim Carrey e Jeff Daniels.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O melhor filme de todos os tempos

I´m Jack´s broken heart.
You do not talk about it.
You do not talk about it.
The things you own, end up owning you.
Você tem um motivo. Você tem um protagonista em dose dupla, como JAMAIS se viu parecido no cinema. Você tem uma crítica dura ao sistema e a todos nós que fazemos parte dele sem nos perguntarmos o porquê ou melhor, como. Você tem um amor dos mais loucos já visto. Você tem um final surpreendente. Eis o maior filme de todos os tempos: Clube da luta.
Há uns bons três anos minha resposta quanto ao meu filme preferido é enfática, não é a toa que temos um Tyler Durden, "o cara" ai em cima como "papel de parede" do site. Temos nesse filme um roteiro acelerado e genial. Literalmente não temos um segundo de marasmo desde a primeira cena de Edward Norton com uma arma na boca, ainda se perguntando se a arma está limpa. O filme é uma construção milimetricamente perfeita de aula de sociologia e existencialismo, humor, ação e por que não, romance. Que tipo de arte/mídia pode se dar ao luxo de juntar existencialismo com ação? Clube da Luta pôde. Ainda como um bom verniz para toda essa obra de arte, temos figurino (os casacos de pele e camisetar pops de Tyler Durden), direção de arte (toda a locação da casa abandonada) e trilha sonora (com The Pixies e "Where is my life" na apoteose), maravilhosos. A edição e produção de efeitos são um filme a parte, brincando a todo momento com a nossa percepção de tempo e espaço.
Como todo bom roteiro não garante todo o sucesso final, temos tão ou mais principalmente as atuações e a química entre os profissionais. Edward Norton, Brad Pitt e Helena Boham Carter transpiram a loucura e o comum desses personagens que guardam um pouco de todos nós reféns da vida moderna. Sob a direção de David Fincher, toda essa salada ainda é cool.
Estava mesmo precisando de inspiração, um bom filme nunca é o mesmo cada nova vez que se assiste.