quarta-feira, 13 de junho de 2012

Abstinência e a crise

Uma das minhas muitas paixões é uma construção californiana meio excêntrica, meio cosplay de elvis presley (se é que eu não estou sendo redundante), meio careca, meio esquisita e com mãos gigantes e assustadoras, uma escola chamada Quentin Tarantino. Conheci esse cara tardiamente na faculdade, eu tinha uns 18 anos, e foi meio que nessa época que eu realmente comecei a entrar em contato com todo o Olimpo do cinema, na minha opinião (o já citado Tarantino, Scorcese, Copolla, Kubrick, mais tardiamente, e isso é outra história, os véio porreta e amados, Eastwood e Allen, não necessariamente nessa ordem). Assisti embasbacada à verborragia, ao non sense extremamente terreno e particular de filmes como Pulp Fiction, Kill Bill, Jackie Brown, Bastardos Inglórios e principalmente Cães de Aluguel. Aquela conversa que não leva o roteiro ou a história a lugar nenhum, aquele bate papo imbecil que nós seres humanos normais levamos e com os quais enriquecemos os nossos dias desde sempre, é esse tipo de conversa que esse nerd, por que não, esse ex funcionário fanático por filmes consegue colocar nas telas há quase três décadas (tudo isso mesmo??). Toda essa introdução pra dizer que eu finalmente assisti ao seu penúltimo filme produzido em 2007 e que por uma cagada foi estrear no Brasil só em 2010, À prova de morte (Death Proof), estrelado por Kurt Russel, mais um ator old school meio que esquecido pela indústria (hello Travolta!), a quem Tarantino resolve prestar uma homenagem, um brinde à memória dos reais"hard asses". A primeira coisa que pensei quando comecei a assistir a esse longa, provavelmente filmado em super 8, todo toscão - meu pai perguntou quão antigo era o filme até se deparar com um Russel envelhecido e fechar suas contas mentais - foi "por que eu demorei tanto tempo pra assistir a um filme inédito do Tarantino, pelo menos pra mim", ou "por que eu simplesmente não abri e assisti novamente a um dos dvds promocionais de Pulp Fiction e Reservoir Dogs que eu tenho na minha cabeceira, só pra lembrar o que é esse cinema?", mas principalmente eu pensei, "esse cara escreve diálogos entre três, quatro, cinco gangsters descolados com a dinâmica e a agilidade de uma captação 5D, mas hey! Ele na verdade, Tarantino é um cara desses, normal...", agora alguém por favor me explique como ele conseguiu tirar conversas, e falas, e sentenças tão geniais de personagens femininos com toda essa veracidade? É o tal do deja vu que ele suscita, como se ele estivesse prestando atenção em todas as nossas conversas íntimas, como ele simplesmente filmasse um reality show. Especialmente aqui, em Death Proof, o que me extasiou foi assistir nesse terror/ação/kind of trash style (he loves it!), chegar à perfeição dessa louca conversa que nós mulheres temos todos os dias?? Não é a toa que o cara lança um filme a cada três anos, é um processo artesanal, inédito, só ele faz, só ele é, não tem precedente e pelo jeito não tem sucessor, e é isso ai. Falar que o cara é bom roteirista, bem...- talvez sim ele não seja o melhor dos atores - mas além disso não tem direção de atores que se compare, não tem jeito mais cool de fazer qualquer starteam trabalhar, de pensar uma trilha, de fotografar (sim, ele fotografa Death Proof), e se alguém não acreditar em mim eu sugiro que assista em uma cacetada só um Pulp Fiction de 1994(rot: Quentin Tarantino/Dir: Quentin Tarantino) da vida, para em seguida assistir a um Amor à queima roupa de 1993(True Romance rot: Quentin Tarantino Dir: Tony Scott - irmão do Ridley), e aí a gente conversa. Só Quentin escreve, só Quentin deve dirigir.